Amor é fogo que arde sem se ver
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís de Camões
-----***-----
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Luís de Camões
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TÍTULOS DOS SONETOS DE LUIS VAZ DE CAMÕES
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http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/camoes.html
Amor é fogo que arde sem se ver
Verdes são os campos
Transforma-se o amador na cousa amada
Se tanta pena tenho merecida
Busque Amor novas artes, novo engenho
Enquanto quis Fortuna que tivesse
Tomou-me vossa vista soberana
Quem pode livre ser, gentil Senhora
O fogo que na branda cera ardia
Tanto de meu estado me acho incerto
Alma minha gentil, que te partiste
Quando de minhas mágoas a comprida
Ah! minha Dinamene! Assim deixaste
Endechas a Bárbara escrava
Descalça vai pera a fonte
Perdigão perdeu a pena
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
No mundo quis o Tempo que se achasse
Quando me quer enganar
Amor, que o gesto humano na alma escreve
Quem presumir, Senhora, de louvar-vos
Posto me tem Fortuna em tal estado
Ao desconcerto do Mundo
Eu cantarei de amor tão docemente(13/2/95)
Que me quereis, perpétuas saudades?(20/2/95)
Se as penas com que Amor tão mal me trata (6/3/95)
Se me vem tanta glória só de olhar-te (22/5/95)
Quem vê, Senhora, claro e manifesto (31/7/95)
O dia em que nasci moura e pereça (5/2/96)
Julga-me a gente toda por perdido (14/2/96)
Vencido está de amor (14/2/96)
Senhora minha, se de pura inveja (28/10/96)
O cisne, quando sente ser chegada (28/4/97)
Se pena por amar-vos se merece (13/10/97)
Sempre a Razão vencida foi de Amor (11/5/98)
Coitado! que em um tempo choro e rio (22/6/98)
Lembranças, que lembrais meu bem passado (21/9/98)
Nunca em amor danou o atrevimento (1/3/99)
Erros meus, má fortuna, amor ardente (22/3/99)
Qual tem a borboleta por costume (12/4/99)
O tempo acaba o ano, o mês e a hora (7/6/99)
Quem diz que Amor é falso ou enganoso (10/1/00)
De quantas graças tinha, a Natureza (17/1/00)
Ditoso seja aquele que somente (20/3/00)
Se só no ver puramente (15/5/00)
Onde acharei lugar tão apartado (4/12/00)
FONTE:
http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/camoes.html
Hino nacional de Portugal - A Portuguesa - Heróis do Mar ...
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Administradora: Silvia Araújo Motta (ver Google imagens e textos no Recanto das Letras) Visite-nos: http://clubedalinguaport.blogspot.com/ Visite também:http://http://academiadeletrasdobrasildeminasgerais.blogspot.com.br/ contatos: Email: clubedalinguaport@gmail.com (55) (31) 9.99282798 Operadora Vivo
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sábado, 5 de novembro de 2011
OBRA POÉTICA DE FERNANDO PESSOA
OBRA POÉTICA DE FERNANDO PESSOA;
http://www.insite.com.br/art/pessoa/
-----***-----
AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa
-----***-----
QUADRAS AO GOSTO POPULAR
FERNANDO PESSOA
Cantigas de portugueses
São como barcos no mar -
Vão de uma alma para outra
Com riscos de naufragar.
A terra é sem vida, e nada
Vive mais que o coração
E envolve-te a terra fria
E a minha saudade não!
O moinho de café
Mói grãos e faz deles pó.
O pó que a minh'alma é
Moeu quem me deixa só.
Se eu te pudesse dizer
O que nunca te direi,
Tu terias que entender
Aquilo que nem eu sei.
Teu vestido porque é teu,
Não é de cetim nem chita.
É de sermos tu e eu
E de tu seres bonita.
Vem cá dizer-me que sim.
Ou vem dizer-me que não.
Porque sempre vens assim
P'ra ao pé do meu coração.
Tenho um segredo a dizer-te
Que não te posso dizer.
E com isso já te o disse
Estavas farta de o saber...
Dona Rosa, Dona Rosa,
De que roseira é que vem,
Que não tem senão espinhos
Para quem só lhe quer bem?
Dona Rosa, Dona Rosa,
Quando eras inda botão
Disseram-te alguma cousa
De flor não ter coração?
Trazes uma cruz no peito.
Não sei se é por devoção.
Antes tivesses o jeito
De ter lá um coração.
-----***-----
ODE DE RICARDO REIS-HETERÔNIMO DE FERNANDO PESSOA
Ricardo Reis (1887 - 1935?):
Ricardo Reis nasceu no Porto. Educado em colégio de jesuítas, é médico e vive no Brasil desde 1919, pois expatriou-se espontaneamente por ser monárquico. É latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria.
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Ricardo Reis, 14-2-1933
-----***-----
Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.
Ricardo Reis, 3-1-1923
-----***-----
POEMAS DE ALBERTO CAIEIRO-HETERÔNIMO DE FERNANDO PESSOA:
NOTA:
Alberto Caeiro é considerado o mestre de todos os heterônimos de Fernando Pessoa. Nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão, nem educação quase alguma, só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia avó. Morreu tuberculoso.
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914
-----****-----
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Alberto Caeiro
-----***-----
Álvaro de Campos (1890 - 1935?):HETERÔNIMO DE FERNANDO PESSOA:
Nasceu em Tavira, teve uma educação vulgar de Liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário.
Poemas de Álvaro de Campos:
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Álvaro de Campos, 21-10-1935
---***---
POEMA EM LINHA RETA
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Álvaro de Campos
-----***-----
TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos, 15-1-1928
-----***-----
ANIVERSÁRIO
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui --- ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado---,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Álvaro de Campos, 15-10-1929
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Assim como falham as palavras quando querem exprimir
qualquer pensamento, assim falham os pensamentos
quando querem exprimir qualquer realidade. (A.Caeiro)
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Glossário
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Cancioneiro: Nota preliminar
Tão abstrata é a idéia do teu ser...
Dobre - Peguei no meu coração...
Quem te disse ao ouvido esse segredo...
Abdicação: Toma-me, ó noite eterna...
Dorme enquanto eu velo... deixa-me sonhar...
Põe as mãos nos ombros... beija-me na fronte...
Ao longe, ao luar, no rio uma vela...
Sonho. Não sei quem sou neste momento...
Contemplo o lago mudo que uma brisa estremece...
Gato que brincas na rua como se fose na cama...
Não: não digas nada!
Vaga, no azul amplo solta, vai uma nuvem errando...
O Andaime: O tempo que eu hei sonhado...
Sorriso audível das folhas...
Autopsicografia: O poeta é um fingidor...
O que me dói não é o que há no coração...
Entre o sono e o sonho...
Tudo o que faço ou medito fica sempre na metade.
Tenho tanto sentimento que...
Viajar! Perder países!
Grandes mistérios habitam o limiar do meu ser...
Fresta: Em meus momentos escuros...
Eros e Psique: Conta a lenda que dormia uma princesa...
Teus olhos entristecem. Nem ouves o que digo...
Liberdade: Ai que prazer não cumprir um dever...
Hora Absurda - O teu silêncio é uma nau...
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FONTE:
http://www.insite.com.br/art/pessoa/lista.php
http://www.insite.com.br/art/pessoa/
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AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa
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QUADRAS AO GOSTO POPULAR
FERNANDO PESSOA
Cantigas de portugueses
São como barcos no mar -
Vão de uma alma para outra
Com riscos de naufragar.
A terra é sem vida, e nada
Vive mais que o coração
E envolve-te a terra fria
E a minha saudade não!
O moinho de café
Mói grãos e faz deles pó.
O pó que a minh'alma é
Moeu quem me deixa só.
Se eu te pudesse dizer
O que nunca te direi,
Tu terias que entender
Aquilo que nem eu sei.
Teu vestido porque é teu,
Não é de cetim nem chita.
É de sermos tu e eu
E de tu seres bonita.
Vem cá dizer-me que sim.
Ou vem dizer-me que não.
Porque sempre vens assim
P'ra ao pé do meu coração.
Tenho um segredo a dizer-te
Que não te posso dizer.
E com isso já te o disse
Estavas farta de o saber...
Dona Rosa, Dona Rosa,
De que roseira é que vem,
Que não tem senão espinhos
Para quem só lhe quer bem?
Dona Rosa, Dona Rosa,
Quando eras inda botão
Disseram-te alguma cousa
De flor não ter coração?
Trazes uma cruz no peito.
Não sei se é por devoção.
Antes tivesses o jeito
De ter lá um coração.
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ODE DE RICARDO REIS-HETERÔNIMO DE FERNANDO PESSOA
Ricardo Reis (1887 - 1935?):
Ricardo Reis nasceu no Porto. Educado em colégio de jesuítas, é médico e vive no Brasil desde 1919, pois expatriou-se espontaneamente por ser monárquico. É latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria.
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Ricardo Reis, 14-2-1933
-----***-----
Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.
Ricardo Reis, 3-1-1923
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POEMAS DE ALBERTO CAIEIRO-HETERÔNIMO DE FERNANDO PESSOA:
NOTA:
Alberto Caeiro é considerado o mestre de todos os heterônimos de Fernando Pessoa. Nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão, nem educação quase alguma, só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia avó. Morreu tuberculoso.
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914
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O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Alberto Caeiro
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Álvaro de Campos (1890 - 1935?):HETERÔNIMO DE FERNANDO PESSOA:
Nasceu em Tavira, teve uma educação vulgar de Liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário.
Poemas de Álvaro de Campos:
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Álvaro de Campos, 21-10-1935
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POEMA EM LINHA RETA
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Álvaro de Campos
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TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos, 15-1-1928
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ANIVERSÁRIO
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui --- ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado---,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
Álvaro de Campos, 15-10-1929
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Assim como falham as palavras quando querem exprimir
qualquer pensamento, assim falham os pensamentos
quando querem exprimir qualquer realidade. (A.Caeiro)
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Glossário
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Cancioneiro: Nota preliminar
Tão abstrata é a idéia do teu ser...
Dobre - Peguei no meu coração...
Quem te disse ao ouvido esse segredo...
Abdicação: Toma-me, ó noite eterna...
Dorme enquanto eu velo... deixa-me sonhar...
Põe as mãos nos ombros... beija-me na fronte...
Ao longe, ao luar, no rio uma vela...
Sonho. Não sei quem sou neste momento...
Contemplo o lago mudo que uma brisa estremece...
Gato que brincas na rua como se fose na cama...
Não: não digas nada!
Vaga, no azul amplo solta, vai uma nuvem errando...
O Andaime: O tempo que eu hei sonhado...
Sorriso audível das folhas...
Autopsicografia: O poeta é um fingidor...
O que me dói não é o que há no coração...
Entre o sono e o sonho...
Tudo o que faço ou medito fica sempre na metade.
Tenho tanto sentimento que...
Viajar! Perder países!
Grandes mistérios habitam o limiar do meu ser...
Fresta: Em meus momentos escuros...
Eros e Psique: Conta a lenda que dormia uma princesa...
Teus olhos entristecem. Nem ouves o que digo...
Liberdade: Ai que prazer não cumprir um dever...
Hora Absurda - O teu silêncio é uma nau...
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FONTE:
http://www.insite.com.br/art/pessoa/lista.php
POEMA:O CORVO * (de Edgar Allan Poe TRADUZIDO POR FERNANDO PESSOA) E TRADUÇÃO DE MACHADO DE ASSIS)
O CORVO *
(de Edgar Allan Poe
TRADUZIDO POR FERNANDO PESSOA)
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".
E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.
A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.
Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.
E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais".
Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".
Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais".
A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".
Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".
Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!
Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais".
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".
"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!
Fernando Pessoa
* Traduzido de The Raven, de Edgard Allan Poe, ritmicamente conforme com o original.
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O CORVO
TRADUÇÃO DE MACHADO DE ASSIS
Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho,
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais."
Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o chão refletia
A sua última agonia.
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora.
E que ninguém chamará mais.
E o rumor triste, vago, brando
Das cortinas ia acordando
Dentro em meu coração um rumor não sabido,
Nunca por ele padecido.
Enfim, por aplacá-lo aqui no peito,
Levantei-me de pronto, e: "Com efeito,
(Disse) é visita amiga e retardada
Que bate a estas horas tais.
É visita que pede à minha porta entrada:
Há de ser isso e nada mais."
Minh'alma então sentiu-se forte;
Não mais vacilo e desta sorte
Falo: "Imploro de vós, — ou senhor ou senhora,
Me desculpeis tanta demora.
Mas como eu, precisando de descanso,
Já cochilava, e tão de manso e manso
Batestes, não fui logo, prestemente,
Certificar-me que aí estais."
Disse; a porta escancaro, acho a noite somente,
Somente a noite, e nada mais.
Com longo olhar escruto a sombra,
Que me amedronta, que me assombra,
E sonho o que nenhum mortal há já sonhado,
Mas o silêncio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta;
Só tu, palavra única e dileta,
Lenora, tu, como um suspiro escasso,
Da minha triste boca sais;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
Foi isso apenas, nada mais.
Entro coa alma incendiada.
Logo depois outra pancada
Soa um pouco mais forte; eu, voltando-me a ela:
"Seguramente, há na janela
Alguma cousa que sussurra. Abramos,
Eia, fora o temor, eia, vejamos
A explicação do caso misterioso
Dessas duas pancadas tais.
Devolvamos a paz ao coração medroso,
Obra do vento e nada mais."
Abro a janela, e de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortesias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
De um lord ou de uma lady. E pronto e reto,
Movendo no ar as suas negras alas,
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;
Trepado fica, e nada mais.
Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "O tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais;
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o corvo disse: "Nunca mais".
Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome: "Nunca mais".
No entanto, o corvo solitário
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda a sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora."
E o corvo disse: "Nunca mais!"
Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: "Nunca mais".
Segunda vez, nesse momento,
Sorriu-me o triste pensamento;
Vou sentar-me defronte ao corvo magro e rudo;
E mergulhando no veludo
Da poltrona que eu mesmo ali trouxera
Achar procuro a lúgubre quimera,
A alma, o sentido, o pávido segredo
Daquelas sílabas fatais,
Entender o que quis dizer a ave do medo
Grasnando a frase: "Nunca mais".
Assim posto, devaneando,
Meditando, conjeturando,
Não lhe falava mais; mas, se lhe não falava,
Sentia o olhar que me abrasava.
Conjeturando fui, tranqüilo a gosto,
Com a cabeça no macio encosto
Onde os raios da lâmpada caíam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam,
E agora não se esparzem mais.
Supus então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso,
Obra de serafins que, pelo chão roçando
Do quarto, estavam meneando
Um ligeiro turíbulo invisível;
E eu exclamei então: "Um Deus sensível
Manda repouso à dor que te devora
Destas saudades imortais.
Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora."
E o corvo disse: "Nunca mais".
“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Dize-me: existe acaso um bálsamo no mundo?"
E o corvo disse: "Nunca mais".
“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende!
Por esse céu que além se estende,
Pelo Deus que ambos adoramos, fala,
Dize a esta alma se é dado inda escutá-la
No éden celeste a virgem que ela chora
Nestes retiros sepulcrais,
Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!”
E o corvo disse: "Nunca mais."
“Ave ou demônio que negrejas!
Profeta, ou o que quer que sejas!
Cessa, ai, cessa! clamei, levantando-me, cessa!
Regressa ao temporal, regressa
À tua noite, deixa-me comigo.
Vai-te, não fique no meu casto abrigo
Pluma que lembre essa mentira tua.
Tira-me ao peito essas fatais
Garras que abrindo vão a minha dor já crua."
E o corvo disse: "Nunca mais".
E o corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demônio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e, fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!
FONTE:
http://pt.wikisource.org/wiki/O_Corvo_(tradu%C3%A7%C3%A3o_de_Machado_de_Assis)
(de Edgar Allan Poe
TRADUZIDO POR FERNANDO PESSOA)
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".
E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.
A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.
Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.
E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais".
Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".
Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais".
A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".
Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".
Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!
Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais".
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".
"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!
Fernando Pessoa
* Traduzido de The Raven, de Edgard Allan Poe, ritmicamente conforme com o original.
-----***-----
O CORVO
TRADUÇÃO DE MACHADO DE ASSIS
Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho,
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais."
Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o chão refletia
A sua última agonia.
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora.
E que ninguém chamará mais.
E o rumor triste, vago, brando
Das cortinas ia acordando
Dentro em meu coração um rumor não sabido,
Nunca por ele padecido.
Enfim, por aplacá-lo aqui no peito,
Levantei-me de pronto, e: "Com efeito,
(Disse) é visita amiga e retardada
Que bate a estas horas tais.
É visita que pede à minha porta entrada:
Há de ser isso e nada mais."
Minh'alma então sentiu-se forte;
Não mais vacilo e desta sorte
Falo: "Imploro de vós, — ou senhor ou senhora,
Me desculpeis tanta demora.
Mas como eu, precisando de descanso,
Já cochilava, e tão de manso e manso
Batestes, não fui logo, prestemente,
Certificar-me que aí estais."
Disse; a porta escancaro, acho a noite somente,
Somente a noite, e nada mais.
Com longo olhar escruto a sombra,
Que me amedronta, que me assombra,
E sonho o que nenhum mortal há já sonhado,
Mas o silêncio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta;
Só tu, palavra única e dileta,
Lenora, tu, como um suspiro escasso,
Da minha triste boca sais;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
Foi isso apenas, nada mais.
Entro coa alma incendiada.
Logo depois outra pancada
Soa um pouco mais forte; eu, voltando-me a ela:
"Seguramente, há na janela
Alguma cousa que sussurra. Abramos,
Eia, fora o temor, eia, vejamos
A explicação do caso misterioso
Dessas duas pancadas tais.
Devolvamos a paz ao coração medroso,
Obra do vento e nada mais."
Abro a janela, e de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortesias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
De um lord ou de uma lady. E pronto e reto,
Movendo no ar as suas negras alas,
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;
Trepado fica, e nada mais.
Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "O tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais;
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o corvo disse: "Nunca mais".
Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome: "Nunca mais".
No entanto, o corvo solitário
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda a sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora."
E o corvo disse: "Nunca mais!"
Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: "Nunca mais".
Segunda vez, nesse momento,
Sorriu-me o triste pensamento;
Vou sentar-me defronte ao corvo magro e rudo;
E mergulhando no veludo
Da poltrona que eu mesmo ali trouxera
Achar procuro a lúgubre quimera,
A alma, o sentido, o pávido segredo
Daquelas sílabas fatais,
Entender o que quis dizer a ave do medo
Grasnando a frase: "Nunca mais".
Assim posto, devaneando,
Meditando, conjeturando,
Não lhe falava mais; mas, se lhe não falava,
Sentia o olhar que me abrasava.
Conjeturando fui, tranqüilo a gosto,
Com a cabeça no macio encosto
Onde os raios da lâmpada caíam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam,
E agora não se esparzem mais.
Supus então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso,
Obra de serafins que, pelo chão roçando
Do quarto, estavam meneando
Um ligeiro turíbulo invisível;
E eu exclamei então: "Um Deus sensível
Manda repouso à dor que te devora
Destas saudades imortais.
Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora."
E o corvo disse: "Nunca mais".
“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Dize-me: existe acaso um bálsamo no mundo?"
E o corvo disse: "Nunca mais".
“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende!
Por esse céu que além se estende,
Pelo Deus que ambos adoramos, fala,
Dize a esta alma se é dado inda escutá-la
No éden celeste a virgem que ela chora
Nestes retiros sepulcrais,
Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!”
E o corvo disse: "Nunca mais."
“Ave ou demônio que negrejas!
Profeta, ou o que quer que sejas!
Cessa, ai, cessa! clamei, levantando-me, cessa!
Regressa ao temporal, regressa
À tua noite, deixa-me comigo.
Vai-te, não fique no meu casto abrigo
Pluma que lembre essa mentira tua.
Tira-me ao peito essas fatais
Garras que abrindo vão a minha dor já crua."
E o corvo disse: "Nunca mais".
E o corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demônio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e, fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!
FONTE:
http://pt.wikisource.org/wiki/O_Corvo_(tradu%C3%A7%C3%A3o_de_Machado_de_Assis)
VAMOS DIVULGAR POEMAS DE LUÍS VAZ DE CAMÕES, O MAIOR POETA DA LÍNGUA PORTUGUESA-PATRONO DO CLUBE BRASILEIRO DA LINGUA PORTUGUESA-CBLP
Mensagem & Os Lusíadas
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Mensagem & Os Lusíadas - Presentation Transcript
- Colégio de São Gonçalo - 12º ano - Prof. António Costa MENSAGEM(intertextualidade com Os Lusíadas) notas para o estudo Camões / F. Pessoa
MODERNISMO- contextualizaçãoF. Pessoa• apercebeu-se da crise (valores, fé) que marcava o pensamento europeu do séc. XX;• Põe em causa a tradição cultural da civilização ocidental (religião, ciência, arte, política).• Contesta a moral enraizada em princípios maniqueístas.• vê na religião o factor que motiva o atraso civilizacional por ela atrofiar as capacidades intelectuais e críticas do indivíduo.• Acredita que a ciência não é a solução, apesar do domínio da técnica, e que persiste a ansiedade metafísica.
MODERNISMO MODERNISMO: «a arte de ruptura»• Na arte, Pessoa defende a teoria do fingimento: o homem sente de uma forma convencional, condicionado por vários imperativos sociais. Assim… “O poeta é um fingidor Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente” Autopsicografia• A expressão do sentimento constitui-se como uma forma de mentira.• Em 1913, Pessoa implementa os «ismos» de vanguarda – primeira tentativa de salvar o estado de decrepitude das letras nacionais: - urgência em destruir as concepções tradicionais; - agitar a nação; - propor a literatura como forma de transformação social; - renovar a mentalidade saudosista da época; - chocar para mudar.• Em 1915, abandona atitude inicial; considera que a poesia deve dar conta do «doloroso enigma da vida».
MODERNISMO• Acredita que um novo ciclo deveria ser inaugurado na história da literatura portuguesa.• Os lusitanos teriam um papel de relevo nessa nova era civilizacional.• Considera que a arte portuguesa deve ser… “maximamente desnacionalizada”, para ser moderna.• Sonha com a criação de um novo mundo (como no séc. XVI), através de novas formas de percepção e análise da realidade.• Mais do que combater o Saudosismo, Pessoa propunha a dissolução de Portugal… só das cinzas poderíamos renascer da catástrofe provocada pela derrota de Alcácer Quibir (perda da identidade nacional)
MODERNISMO• O atraso de mentalidades e a estagnação chocante do país deprimia-o e motivava o seu isolamento.• Procurou nessa decadência da pátria o ponto de partida para se produzir um renascimento, uma renovação e revolução culturais.• A heteronímia e a consequente destruição da unidade do «eu» na escrita é o ponto de partida.• O projecto realiza-se na Mensagem: canto de apelo à vontade os portugueses para se realizar a mudança radical (forma de ser e de estar).• Pessoa anuncia-se como o profeta de uma nova era, preconizando o advento de um super-homem que promoveria o reencontro dos elementos integrantes da nossa personalidade colectiva.• Assim, a «desnacionalização» é a forma de nos redescobrirmos.• A regeneração do homem português e de Portugal seria o início de uma nova existência.
Poema sobre Salazar - Fernando Pessoa mostra-se avesso a políticas de autoritarismo totalitário.António de Oliveira Salazar Bebe a verdadeTrês nomes em sequência regular… E a Liberdade.António é António. E com tal agradoOliveira é uma árvore. Que já começamSalazar é só apelido. A escassear no mercado.Até aí está bem.O que não faz sentido CoitadinhoÉ o sentido que tudo isto tem. Do tiraninho! O meu vizinhoEste senhor Salazar Está na GuinéÉ feito de sal e azar. E o meu padrinhoSe um dia chove, No LimoeiroA água dissolve o sal, Aqui ao pé.E sob o céu Mas ninguém sabe porquê.Fica só azar, é natural. Mas enfim éOh, c’os diabos! Certo e certeiroParece que já choveu… Que isto consola E nos dá fé:Coitadinho Que o coitadinhoDo tiraninho! Do tiraninhoNão bebe vinho. Não bebe vinho,Nem sequer sozinho… Nem até Café
MENSAGEM• A intenção do poeta: - não é cantar os feitos gloriosos dos antepassados portugueses (Camões); - é apresentar a ideia grandiosa que está subjacente à realização dos acontecimentos que engrandeceram a História nacional ;• A essência da obra: “E a nossa grande raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas daquilo de que os sonhos são feitos.” (in, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação)• Para actuar enquanto espécie (“Humanidade” F. P.), é necessário saber ser indivíduo. Assim, Pessoa propõe uma aliança entre: a concepção renascentista do Homem e a descoberta romântica do “eu”, isto é, a simbiose entre duas realidades materiais numa que não é material – a Nação.
MENSAGEM “Há três realidades sociais: o Indivíduo, a Nação, a Humanidade. Tudo o mais é fictício (…).” “O Indivíduo é a realidade suprema porque tem um contorno material e mental – é um corpo e uma alma vivas.” “O Indivíduo e a Humanidade são lugares, a Nação é o caminho entre eles.” F. Pessoa Nação = um caminho, um veículo para o futuro Super-Portugal: “A nação é a escola presente para a Super-Nação futura…”• Para Pessoa, importa acreditar na força propulsora, cujo dinamismo é a própria natureza humana, que se projecta sempre que existe um ideal: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.” (Mensagem, O Infante)• Pessoa encontra essa força no grande mito nacional - o Sebastianismo
MENSAGEM – inquérito ao poeta• Pergunta: “Que pensa da nossa crise, dos seus aspectos – político, moral e intelectual?”• Resposta: No seu sentido superior e profundo, a desvalorização internacional da nação portuguesa deriva de três factores conjugados (da acção conjugada de três factores) — a incultura, geral como profissional, do indivíduo português e sobretudo do indivíduo das classes médias; a deficiência de propaganda de Portugal no estrangeiro; e a ausência de consciência superior da nacionalidade. (…) A causa fundamental, não há dúvida, é a longa decadência em que entrámos desde o fim da dinastia de Avis. Por decairmos, decaíram paralelamente o indivíduo português e o Estado Português, administrado por esses indivíduos. E, decaindo o indivíduo e o Estado, deixou de haver uma consciência superior da nacionalidade e dos fins nacionais, (…) e deixou de haver a precisa propaganda de Portugal no estrangeiro, (…) falho o orgulho nacional, havia quem, individualmente, se ocupasse em o erguer ante o estrangeiro. (…) O nosso homem das classes médias — e as classes médias são o esteio de um país — é mal culto, ignorante, profissionalmente instintivo ou atado (profissionalmente no comércio); a propaganda da nossa terra é descurada pelo estado, absorvido por políticos, pelos indivíduos, desnacionalizados e inertes, para tudo quanto não seja os seus baixos interesses ou os interesses superiores da sua política inferior; e a invasão das ideias estrangeiras, (…) privou-nos de podermos criar, não já um orgulho nacional, mas uma simples consciência superior da nossa nacionalidade .
MENSAGEM – inquérito ao poeta• Pergunta: “Sim ou não o moral da Nação pode ser levantado por uma intensa propaganda, pelo jornal, pela revista e pelo livro, de forma a criar uma mentalidade colectiva capaz de impor aos políticos uma política de grandeza nacional? (…)”• Resposta: “Há só uma espécie de propaganda com que se pode levantar o moral de uma nação — a construção ou renovação e a difusão consequente e multímoda de um grande mito nacional. (…) O mundo conduz-se por mentiras; quem quiser despertá-lo ou conduzi-lo terá que mentir-lhe delirantemente, e fá-lo-á com tanto mais êxito quanto mais mentir a si mesmo e se compenetrar da verdade da mentira que criou. Temos, felizmente, o mito sebastianista, com raízes profundas no passado e na alma portuguesa. Nosso trabalho é pois mais fácil; não temos que criar um mito, senão que renová-lo. Comecemos por nos embebedar desse sonho, por o integrar em nós, por o encarnar. (…) Então se dará na alma da Nação o fenómeno imprevisível de onde nascerão as Novas Descobertas, a Criação do Mundo Novo, o Quinto Império. Terá regressado El-Rei D. Sebastião.”
MENSAGEM – teorização do poeta• “O meu intenso sofrimento patriótico, o meu intenso desejo de melhorar o estado de Portugal, provocam em mim — como exprimir com que ardor, com que intensidade, com que sinceridade !— mil projectos que mesmo se realizáveis por um só homem, exigiriam dele uma característica puramente negativa em mim — força de vontade. (…) E, depois, incompreendido. Ninguém suspeita do meu amor patriótico, mais intenso do que o de todos aqueles a quem encontro ou conheço. “ Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação• Intertextualidade Camões/Pessoa: “…As cousas árduas e lustrosas, Se alcançam com trabalho e com fadiga; Faz as pessoas altas e famosas A vida que se perde e que periga, Que, quando ao medo infame não se rende, Então, se menos dura, mais se estende.” (Camões, Os Lusíadas, IV, 78) “…Só aquilo que vale a pena custa e dói. Bendita a dor e a pena pelas quais o Mundo se transforma.” Fernando Pessoa, Ultimatum e Páginas de Socioogia Política
MENSAGEM – o sonho do poeta• Mensagem é…• O canto de um passado histórico que se transforma num mito, para que possamos reinventar o futuro - ultrapassar as várias fases de um percurso iniciático (a «escola») - objectivo: atingir o renascimento do homem português enquanto ser espiritual.• A conquista sonhada - a identidade perdida reencontrar-se-ia e traria consigo… - o Rei (arquétipo de Pai) - o Espaço (arquétipo de Mãe) a nova PÁTRIA.
MENSAGEM – a génese• Único livro publicado em vida;• Motivo: foi o único livro que ele conseguiu completar;• Em carta de 1932, o poeta atesta a intenção de publicar primeiro Portugal (primeiro título de Mensagem) e só depois O Livro do Desassossego e a poesia dos heterónimos;• A palavra Mensagem começa, desde logo, por explorar os domínios do simbólico e do mistério – divide-se em três Mens agitat Molem (a mente move a matéria); Pessoa acha-a mais apropriada do que Portugal (ver acetato);• Um mês depois da sua publicação, o livro foi premiado pelo S. P. N., com um 2º prémio (com o mesmo valor pecuniário do 1º);• Mensagem é, para Pessoa, o primeiro passo, na direcção de um outro futuro.
MENSAGEM – a génese• “o pequeno livro de poemas” é um livro de orações pagãs;• Contém um plano cheio de heróis que abandonam a carne e o osso em favor do símbolo;• É um livro fácil de ler, mas difícil de compreender;• exige a análise e a reflexão;• Não tem o lirismo inocente de Camões, nem o tom cristão e pacífico dos sermões de Vieira;• É um mega poema de exaltação nacionalista;• Se Pessoa fala de figuras, é para depois as tornar em símbolo;• Se fala em eventos, é para depois os tirar do tempo, reduzindo-os a uma parte de um destino maior;• Tudo em torno de uma Índia que não existe ainda, embarcando tudo o que o sonho humano permite.
MENSAGEM - ESTRUTURA• Características gerais• Estrutura: externa e interna (ver manual Plural, Lisboa Editora: páginas 141)
Mensagem - análise• Abertura: “Benedictus Dominus Deus noster qui dedit nobis signum” elocução em latim, com profundos significados herméticos1, nomeadamente Rosa-crucianos2.• Tradução: “Bendito sejas Deus nosso Senhor, que nos deu o verbo” ou “…deu o sinal”.• Assim, na abertura, FP diz ao leitor, de maneira velada, que Mensagem é uma obra de símbolos.• Para FP, Jesus Cristo (“nosso Senhor”) é o maior símbolo: Jesus é logos, o intermediário intelectual, entre a misteriosa vontade do Deus criador e o alcance humano da razão.• Este símbolo magno antecipa, pois, todos os outros símbolos (humanos)• FP revela grande interesse de no ocultismo e na Cabala3 (episódio com Aleisteir Crowley)
Mensagem - análise• A divisão do poema em 3 partes não é inocente: na tradição cabalística, o nº 3 representa a transformação e unificação de polaridades opostas, onde o espiritual governa o físico e a mente governa a matéria.• (nº 3 na Bíblia: trindade; criação do mundo: 3 dias para criar o Céu e a Terra; + 3 dias para os povoar)• “Brasão”: - representa em símbolo a nobreza do povo português, na sua essência primordial; - é críptico em si mesmo, uma representação em símbolos e cores, para identificar indivíduos, famílias, actos de nobreza e heroísmo (acetato); - FP quer, desde logo, fixar hermeticamente (falando da conquista do território), para depois dissolver e sublimar.
Brasão de Portugal
Mensagem - análise• A 1ª parte de Mensagem• “Bellum sine bello” = “guerra sem guerrear” a parte que se mantém sempre eterna, como nobreza e carácter.• Tem 19 poemas (1+9=10=1+0=1, a unidade, o início)• Dedicada ao tema da filosofia/religião cristã;• Subtítulo “Os Campos” = os terrenos simbólicos onde a luta se inicia, pelas “Quinas”, título do poema segundo da primeira parte: “O Das Quinas”
Mensagem - análise• “Os Castelos”: significado apenas heráldico ou tb simbólico? - em Castelos, são expostas as bases fundadoras da nação; - é a parte II de Campos (função dos castelos na IM…) - serão para FP as figuras fortes, maciças, em cujos feitos se baseiam todas as outras; - serão pois sinónimo de “Fortalezas”, “Bases Seguras”; - 7 Castelos: soma do ternário (Céu), como quaternário (Terra) = totalidade do universo criado; - Bíblia: Deus precisou de 7 dias para criar o mundo; - a importância do mito: FP inicia “Os Castelos” com Ulisses = as coisas morrem e em essência, em mito se renovam, renascem.
Mensagem – vocabulário• 1Hermetismo é o estudo e prática da filosofia oculta e da magia associados a escritos atribuídos a Hermes Trismegisto, "Hermes Três-Vezes-Grande", uma deidade sincrética que combina aspectos do deus grego Hermes e do deus egípcio Thoth. Estas crenças tiveram influência na sabedoria oculta europeia…• Leis herméticas São sete as principais leis herméticas, estas baseiam-se nos princípios incluídos no livro "O Caibalion" que reúne os ensinamentos básicos da Lei que rege todas as coisas manifestadas. A palavra Caibalion seria um derivado grego da mesma raíz da palavra Cabala, que em hebraico significa "recepção".Lei do Mentalismo "O Todo é Mente; o Universo é mental."Lei da Correspondência "O que está em cima é como o que está em baixo. E o que está em baixo é como o que está em cima"Lei da Vibração "Nada está parado, tudo se move, tudo vibra".Lei da Polaridade "Tudo é duplo, tudo tem dois pólos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos tocam-se . Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados"Lei do Ritmo "Tudo tem fluxo e refluxo, tudo tem as suas marés, tudo sobe e desce, o ritmo é a compensação".Lei do Género "O Género está em tudo: tudo tem os seus princípios Masculino e Feminino, o género se manifesta em todos os planos da criação".Lei de Causa e Efeito "Toda causa tem seu efeito, todo o efeito tem sua causa, existem muitos planos de causalidade mas nenhum escapa à Lei".
Mensagem - vocabulário• 2Rosa-cruz (Rosacruz ou Rosacrucianismo) refere-se a diversas organizações místicas e esotéricas, normalmente denominadas fraternidades ou Ordens, que se reinvindicam herdeiras de tradições antigas e que usam rituais associados à Franco-maçonaria.• A Ordem Rosacruz foi fundada, segundo certas lendas, por Christian Rosenkreuz, peregrino do século XV. Alguns historiadores apontam, contudo, a sua origem num grupo de protestantes alemães, em 1604 ou 1605.
Mensagem - vocabulário• 3"Cabala“:é uma doutrina esotérica que visa conhecer a Deus e o Universo, sendo afirmado que nos chegou como uma revelação para eleger santos de um passado remoto, e reservada apenas a alguns privilegiados.• Grande parte das formas de Cabala ensinam que cada letra, palavra, número, e acento da Escritura contêm um sentido escondido e ensina os métodos de interpretação para verificar esses significados ocultos.• Desde o final do século XIX, com o crescimento do estudo da cultura dos Judeus, a Cabala também tem sido estudada como um elevado sistema racional de compreensão do mundo, mais que um sistema místico.
Os Lusíadas / Mensagem• Relação Intertextual: Os Lusíadas Mensagem Canto I, est. 6, 7, 16. 17 D. Sebastião, Rei de Portugal Canto III, est. 6,17, 20, 21 O dos Castelos Canto III, est. 96, 97, 98 D. Dinis Canto V, est. 1-4; 12-14 O Infante Canto V, est. 37; 39-43 O Mostrengo Canto IX, est. 51, 52; 64, 65; 68, 70-72; Horizonte 83, 84; 91 Canto X, est. 145 Nevoeiro
INTERTEXTUALIDADE: Os Lusíadas vs Mensagem6"Entre a Zona que o Cancro senhoreia,Meta setentrional do Sol luzente,E aquela que por fria se arreceia O DOS CASTELOSTanto, como a do meio por ardente,Jaz a soberba Europa, a quem rodeia,Pela parte do Areturo, e do Ocidente,Com suas salsas ondas o Oceano, A Europa jaz, posta nos cotovelos:E pela Austral o mar Mediterrano.17 De Oriente a Ocidente jaz, fitando,"Eis aqui se descobre a nobre Espanha, E toldam-lhe românticos cabelosComo cabeça ali de Europa toda,Em cujo senhorio o glória estranhaMuitas voltas tem dado a fatal roda; Olhos gregos, lembrando.Mas nunca poderá, com força ou manha,A fortuna inquieta pôr-lhe noda,Que lhe não tire o esforço e ousadia O cotovelo esquerdo é recuado;Dos belicosos peitos que em si cria.20 O direito é em ângulo disposto."Eis aqui, quase cume da cabeçaDe Europa toda, o Reino Lusitano, Aquele diz Itália onde é pousado;Onde a terra se acaba e o mar começa,E onde Febo repousa no Oceano. Este diz Inglaterra onde, afastado,Este quis o Céu justo que floresça A mão sustenta, em que se apoia o rosto.Nas armas contra o torpe Mauritano,Deitando-o de si fora, e lá na ardenteÁfrica estar quieto o não consente.21 Fita, com olhar sphyngico e fatal,"Esta é a ditosa pátria minha amada, O Ocidente, futuro do passado.A qual se o Céu me dá que eu sem perigoTorne, com esta empresa já acabada,Acabe-se esta luz ali comigo.Esta foi Lusitânia, derivadaDe Luso, ou Lisa, que de Baco antigo O rosto com que fita é Portugal.Filhos foram, parece, ou companheiros,E nela então os Íncolas primeiros. F. Pessoa, Mensagem, I-I, 1 Os Lusíadas, canto III
Comentário:O poema é uma descrição do mapa da Europa que Pessoaassemelha a uma mulher reclinada.Compare-se com o trecho d Os Lusíadas (canto III, est. 6-21).O Campo dos castelos representa a materialidade (ver "O das Quinas")."olhos gregos, lembrando"- lembrando a herança cultural da Europaque Pessoa remontava à Grécia Antiga."olhar sphyngico e fatal"- olhar enigmático (imperscutável) e (mas)pré-destinado. Note-se que, por fidelidade, foi mantida a ortografiaoriginal o que permite, também, conservar a métrica que seriaalterada pela grafia "esfíngico" em vez de “sphyngico". Ao queparece, Fernando Pessoa favorecia a ortografia clássica por razõesde estilo, mas também de elitismo."o Ocidente, futuro do passado"- o Mar, onde a Europa se lançou,através de Portugal, na grande Idade das Descobertas com a qualtraçou o seu próprio futuro (o actual e, pensa Pessoa, também ofuturo a haver).
Em análise: Superficialmente, numa primeira leitura, trata-se de um poema “geográfico”, mero exercício comparativo do mapa físico da Europa com a figura de uma pessoa. “A Europa jaz, posta nos cotovelos: / De Oriente a Ocidente jaz, fitando, / E toldam-lhe românticos cabelos / Olhos gregos, lembrando .” . Nada de extraordinário até aqui. Os fiordes escandinavos realmente parecem uma cabeleira vasta. “O cotovelo esquerdo é recuado; / O direito é em ângulo disposto. / Aquele diz Itália onde é pousado; / Este diz Inglaterra onde, afastado, / A mão sustenta, em que se apoia o rosto”. Ainda sem maior interesse. Dir- se-ia — e aí precisamente mora o perigo — um poema vulgar. Se conferirmos no mapa da Europa — é assim mesmo: os acidentes Itália e Inglaterra são como que os cotovelos de uma jovem. “Fita, com olhar sphyngico e fatal, / Occidente, futuro do passado.” Aqui, as ideias já começam a “complexificar-se”. O poeta anuncia algo de grandioso: “Fita, com olhar sphyngico e fatal,/ O Occidente, futuro do passado.” Finalmente: “O rosto com que fita é Portugal.” “Feche o livro, caro leitor, respire fundo e contemple o Infante preparando as navegações daquela nesga minúscula, simplório enclave geográfico no mapa d’Espanha... — quanta glória!!! Ah, meu Deus, quanta glória em 7 (sete, misticamente sete — dizem que Mensagem é uma mensagem misticamente cifrada; parece que é!), sete palavras apenas para tamanha grandiosidade. Os lusos, Os Lusíadas (…) contidos nesta frase perfeita: “O rosto com que fita é Portugal.”! Disse Pessoa a frase perfeita. Veja o caro leitor se tenho razão em chamá-la perfeita. O rosto — de quem, o rosto? — do mapa anteriormente descrito, o rosto da Europa, símbolo então de toda a civilização ocidental, o rosto da Humanidade, o rosto de Deus? Quem, afinal, fita o mundo?! Agora percebemos que a estrofe anterior — o olhar sphyngico — era terreno preparatório (…) para o grande final (…), onde fitar não é simplesmente sinónimo de olhar. Portugal, no extremo (ou no início!) do mapa e no extremo do verso, FUNDA o mundo e o domina! E na ponta da lança dos seus guerreiros, o missal dos frades enlouquecidos, a esmagar os deuses das novas terras, em nome do Cristo! Quem olha, afinal? A Cruz-de-Malta?! Já não há mais tempo: eis o abismo, caia nele, de ponta!". Soares Feitosa, in Jornal de Poesia
INTERTEXTUALIDADE: Os Lusíadas vs Mensagem96"Eis depois vem Dinis, que bem pareceDo bravo Afonso estirpe nobre e dina,Com quem a fama grande se escureceDa liberalidade Alexandrina.Com este o Reino próspero floresce(Alcançada já a paz áurea divina)Em constituições, leis e costumes,Na terra já tranquila claros lumes.97"Fez primeiro em Coimbra exercitar-seO valeroso ofício de Minerva;E de Helicona as Musas fez passar-seA pisar do Monde-o a fértil erva. D.DINISQuanto pode de Atenas desejar-se,Tudo o soberbo Apolo aqui reserva. Na noite escreve um seu Cantar de AmigoAqui as capelas dá tecidas de ouro,Do bácaro e do sempre verde louro. o plantador de naus a haver, e ouve um silêncio múrmuro consigo:98 é o rumor dos pinhais que, como um trigo"Nobres vilas de novo edificou de Império, ondulam sem se poder ver.Fortalezas, castelos mui seguros,E quase o Reino todo reformou Arroio, esse cantar, jovem e puro,Com edifícios grandes, e altos muros. busca o oceano por achar;Mas depois que a dura Átropos cortouO fio de seus dias já maduros, e a fala dos pinhais, marulho obscuro,Ficou-lhe o filho pouco obediente, é o som presente desse mar futuro,Quarto Afonso, mas forte e excelente. é a voz da terra ansiando pelo mar. Os Lusíadas, canto III Fernando Pessoa, Mensagem, I-II, 6
Comentário:- No século XIII, a Europa estava desflorestada, após séculos de exploração selvagem das florestas primevas.- D. Dinis levou a cabo um vasto plano de reflorestação através do plantio de matas reais de pinheiros bravos.- A madeira foi depois utilizada na construção das caravelas das Descobertas; ela é o tema deste belo oitavo poema da Mensagem. "Cantar de Amigo"- poema medieval, cantado pelos trovadores. D. Dinis escreveu vários destes cantares. "silêncio múrmuro"- silêncio murmurante. "arroio"- riacho; "marulho"- som do mar.
INTERTEXTUALIDADE: Os Lusíadas vs Mensagem6 17E vós, ó bem nascida segurança Em vós se vêm da olímpica moradaDa Lusitana antígua liberdade, Dos dois avós as almas cá famosas,E não menos certíssima esperança Uma na paz angélica dourada,De aumento da pequena Cristandade;Vós, ó novo temor da Maura lança, Outra pelas batalhas sanguinosas;Maravilha fatal da nossa idade, Em vós esperam ver-se renovadaDada ao mundo por Deus, que todo o mande, Sua memória e obras valerosas;Para do mundo a Deus dar parte grande; E lá vos tem lugar, no fim da idade, No templo da suprema Eternidade.7 Os Lusíadas, canto IVós, tenro e novo ramo florescenteDe uma árvore de Cristo mais amadaQue nenhuma nascida no Ocidente, D.SEBASTIÃO REI DE PORTUGALCesárea ou Cristianíssima chamada;(Vede-o no vosso escudo, que presente Louco, sim, louco, porque quis grandezaVos amostra a vitória já passada, Qual a Sorte a não dá.Na qual vos deu por armas, e deixouAs que Ele para si na Cruz tomou) Não coube em mim minha certeza;16 Por isso onde o areal estáEm vós os olhos tem o Mouro frio, Ficou meu ser que houve, não o que há.Em quem vê seu exício afigurado;Só com vos ver o bárbaro GentioMostra o pescoço ao jugo já inclinado; Minha loucura, outros que me a tomemTethys todo o cerúleo senhorioTem para vós por dote aparelhado; Com o que nela ia.Que afeiçoada ao gesto belo e tenro, Sem a loucura que é o homemDeseja de comprar-vos para genro. Mais que a besta sadia, Cadáver adiado que procria? F. Pessoa, Mensagem, I-III, 5
Os Lusíadas, canto I• Na Dedicatória: Camões dedica a sua obra ao rei D. Sebastião.• O tom é laudatório: Camões faz o enaltecimento do jovem rei. “Vós, poderoso Rei, cujo alto Império O Sol, logo em nascendo, vê primeiro”• Para Camões: - o rei é garantia da independência do país; - é a quem cabe uma missão, no cumprimento da vontade de Deus: alargar a fé cristã. “E vós, (…) E não menos certíssima esperança De aumento da pequena Cristandade; (…) Maravilha fatal da nossa idade, Dada ao mundo por Deus, que todo o mande, Para do mundo a Deus dar parte grande.”• O mito sebastianista: - surge após a perda da independência em 4/8/1578; - tem um fundo messiânico, expressão da tentativa desesperada de reconquista da identidade perdida e da restauração da nacionalidade.
D.SEBASTIÃO REI DE PORTUGAL, Mensagem• Localização do poema “D. Sebastião, Rei de Portugal”: I, III - Quinas, 5ª• Fernando Pessoa, na “Mensagem”: - evoca o mito sebastianista, apresentando o rei como “O Desejado”; - cumpre a aglutinação mítica que se encontra na origem do mito português, como “O Encoberto”.• D. Sebastião: surge como a figura arquetipal do esforço e da grandeza do herói português.• “loucura”: adquire uma conotação positiva e associa-se à capacidade de sonhar e à esperança que caracterizam o herói – aquele que é capaz de superar a «besta».• O sujeito poético: - a sua voz identifica-se com a voz de D. Sebastião; - dirige um apelo aos portugueses, estabelecendo a união entre o passado e o presente da nossa história: “Minha loucura, outros que me a tomem Com o que ela ia.”
D.SEBASTIÃO REI DE PORTUGAL, Mensagem• Para F. Pessoa: o homem do séc. XX deveria… - deixar-se impregnar pela essência do mito sebastianista; - conceber a “loucura” de D. Sebastião como o sonho que permitiria a renovação do país e a construção de um futuro promissor, isto é, o renascimento de Portugal. “O génio, o crime e a loucura, provêm, por igual, de uma anormalidade; representam, de diferentes maneiras, uma inadaptabilidade ao meio.” Fernando Pessoa
INTERTEXTUALIDADE: Os Lusíadas vs MensagemD. JOÃO O PRIMEIRO 37 "Corre raivosa, e freme, e com bramidosO homem e a hora são um sóQuando Deus faz e a história é feita. Os montes Sete Irmãos atroa e abala:O mais é carne, cujo pó Tal Joanne, com outros escolhidosA terra espreita. Dos seus, correndo acode à primeira ala:Mestre, sem o saber, do Templo -"Ó fortes companheiros, ó subidosQue Portugal foi feito ser, Cavaleiros, a quem nenhum se iguala,Que houveste a glória e deste o exemploDe o defender. Defendei vossas terras, que a esperança Da liberdade está na vossa lança.”Teu nome, eleito em sua fama,É, na ara da nossa alma interna,A que repele, eterna chama, 45A sombra eterna. "Destas e outras vitórias longamenteD.PHILIPPA DE LENCASTRE Eram os Castelhanos oprimidos, Quando a paz, desejada já da gente,Que enigma havia em teu seio Deram os vencedores aos vencidos,Que só génios concebia?Que archanjo teus sonhos veio Depois que quis o Padre omnipotenteVellar, maternos, um dia? Dar os Reis inimigos por maridos As duas ilustríssimas Inglesas,Volve a nós teu rosto sério,Princeza do Santo Gral, Gentis, formosas, ínclitas princesas.”Humano ventre do Império,Madrinha de Portugal! Canto IV, Os Lusíadas
D. João, o Primeiro / D. Filipa de LencastreD. João o Primeiro: "O homem e a hora são um só, quando Deus faz e a História é feita"- Fernando Pessoa exprime de novo a ideia de que o destino é traçado por Deus e rege inexoravelmente a História. Quando uma nação atinge uma encruzilhada (como Portugal em 1383) é a hora e os escolhidos executam os actos determinados. O homem é o papel que desempenhou, este é o requerido pela ocasião (pela hora), a ocasião é determinada pelo Destino, o Destino foi traçado por Deus. Conhecemos D. João I porque teve a sua hora; sem ela teria sido um obscuro mestre de uma ordem militar obscura. Sem a hora não teria havido o homem... "na ara da nossa alma interna"- no altar do nosso espírito nacional. "repele a sombra eterna"- repele o olvido, que seria o destino de Portugal se perdesse a sua identidade como nação.D. Filipa de Lencastre: "Que enigma havia em teu seio que só génios concebia"- referência à chamada "ínclita geração" dos filhos de D. Filipa e D. João I. "Volve a nós teu rosto sério"- vira o teu rosto (sisudo...) e olha para nós; lembra-te de Portugal; reza por nós! "Princesa do Santo Gral"- referência ao Graal procurado pelos cavaleiros medievais das lendas da Távola Redonda. Existem várias versões sobre o que seria, mas a mais comum refere-o como a taça de onde Cristo bebera na Última Ceia e/ou que teria recolhido o seu sangue na Cruz. A referência deve ser interpretada como "Princesa mística" porque fadada por Deus para ser mãe dos principes da ínclita geração e muito particularmente do Infante D.Henrique; ou "Princesa da grandeza (futura) de Portugal" (o Graal era suposto trazer felicidade à Terra).
INTERTEXTUALIDADE: Os Lusíadas vs Mensagem1 12"Estas sentenças tais o velho honradoVociferando estava, quando abrimos "Sempre enfim para o Austro a aguda proaAs asas ao sereno e sossegado No grandíssimo gólfão nos metemos,Vento, e do porto amado nos partimos. Deixando a serra aspérrima Leoa,E, como é já no mar costume usado, Coo cabo a quem das Palmas nome demos.A vela desfraldando, o céu ferimos,Dizendo: "Boa viagem", logo o vento O grande rio, onde batendo soaNos troncos fez o usado movimento. O mar nas praias notas que ali temos, Ficou, com a Ilha ilustre que tomou2 O nome dum que o lado a Deus tocou."Entrava neste tempo o eterno lumeNo animal Nemeio truculento, O INFANTEE o mundo, que com tempo se consume, 13Na sexta idade andava enfermo e lento: "Ali o mui grande reino está de Congo,Nela vê, como tinha por costume, Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.Cursos do sol quatorze vezes cento, Por nós já convertido à fé de Cristo, Deus quis que a terra fosse toda uma,Com mais noventa e sete, em que corria, Por onde o Zaire passa, claro e longo, Que o mar unisse, já não separasse.Quando no mar a armada se estendia. Rio pelos antigos nunca visto. Sagrou-te, e foste desvendando a espuma, Por este largo mar enfim me alongo3"Já a vista pouco e pouco se desterra Do conhecido pólo de Calisto, E a orla branca foi de ilha em continente,Daqueles pátrios montes que ficavam; Tendo o término ardente já passado, Clareou, correndo, até ao fim do mundo,Ficava o caro Tejo, e a fresca serra Onde o meio do mundo é limitado.De Sintra, e nela os olhos se alongavam. E viu-se a terra inteira, de repente,Ficava-nos também na amada terra Surgir, redonda, do azul profundo.O coração, que as mágoas lá deixavam; 14E já depois que toda se escondeu, "Já descoberto tínhamos diante, Quem te sagrou criou-te português.Não vimos mais enfim que mar e céu. Lá no novo Hemisfério, nova estrela, Do mar e nós em ti nos deu sinal.4 Não vista de outra gente, que ignorante Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez."Assim fomos abrindo aqueles mares, Alguns tempos esteve incerta dela. Senhor, falta cumprir-se Portugal!Que geração alguma não abriu, Vimos a parte menos rutilante,As novas ilhas vendo e os novos ares, E, por falta de estrelas, menos bela,Que o generoso Henrique descobriu; Mensagem, V, 1De Mauritânia os montes e lugares, Do Pólo fixo, onde ainda se não sabeTerra que Anteu num tempo possuiu, Que outra terra comece, ou mar acabe.Deixando à mão esquerda; que à direitaNão há certeza doutra, mas suspeita. Os Lusíadas, canto V
“O Infante” - Comentário:Este poema é um dos mais conhecidos e mais marcantes de Mensagem."Foste desvendando a espuma e a orla branca foi de ilha emcontinente..."- a espuma das ondas que acabam nas praias ou rebentamcontra os rochedos marca as costas com uma orla branca.A frase anterior é uma forma poética de dizer que as costas foramsendo descobertas, primeiro as ilhas e depois os continentes, "até aofim do mundo"."Quem te sagrou criou-te português"- porque, segundo FernandoPessoa, Deus fadou Portugal para um magno destino e o Infante foi, porassim dizer, parte do "puzzle"."Do mar e nós, em ti nos deu sinal"- através de ti revelou-nos que onosso destino era o Mar."Cumpriu-se o Mar e o Império se desfez / ...falta cumprir-se Portugal"- cumpriu-se o destinado: - o Mar foi desvendado; o Império Português (isto é, o controle das rotas oceânicas e a hegemonia no Índico) desfez-se. - Pessoa pensa que Portugal está destinado à grandeza futura, e isso ainda não se cumpriu!
“O Infante” - Comentário:Terceira estrofeQuem te sagrou criou-te português. = Quem te elegeu, fez-te de Portugal.Do mar e nós em ti nos deus sinal. = Fez de ti um símbolo para todos os Portugueses.Cumpriu-se o mar, e o Império se desfez. = Já tivemos a posse do mar (o Império Marítimo) e o Império espiritual desfez-se.Senhor, falta cumprir-se Portugal! = Falta ainda, no entanto, cumprir-se o Destino adiado de Portugal.- Conclusão aparentemente paradoxal, mas para Pessoa, depois do ImpérioMarítimo, falta ainda tudo – falta cumprir-se Portugal.- Para Pessoa, Portugal era mais do que apenas terra, para ele, Portugal eralíngua, cultura, espírito e alma.- Pessoa entende que falta cumprir-se o destino glorioso (e imaterial) da alma, jáque se desfez o destino material do corpo.
Horizonte vs Os Lusíadas, c IXHORIZONTE • 51 Cortando vão as naus a larga viaÓ mar anterior a nós, teus medos Do mar ingente para a pátria amada,Tinham coral e praias e arvoredos. Desejando prover-se de água fria, Para a grande viagem prolongada,Desvendadas a noite e a cerração, Quando juntas, com súbita alegria,As tormentas passadas e o misterio, Houveram vista da ilha namorada, Rompendo pelo céu a mãe formosaAbria em flor o Longe, e o Sul siderio De Menónio, suave e deleitosa.Splendia sobre as naus da iniciação. 52Linha severa da longínqua costa - De longe a Ilha viram fresca e bela, Que Vénus pelas ondas lha levavaQuando a nau se aproxima ergue-se a encosta (Bem como o vento leva branca vela)Em árvores onde o Longe nada tinha; Para onde a forte armada se enxergava; Que, por que não passassem, sem que nelaMais perto abre-se a terra em sons e cores: Tomassem porto, como desejava, Para onde as naus navegam a moviaE, no desembarcar, há aves, flores, A Acidália, que tudo enfim podia.Onde era só, de longe, a abstracta linha. • 64 Nesta frescura tal desembarcavamO sonho é ver as formas invisíveis Já das naus os segundos Argonautas,Da distancia imprecisa, e, com sensíveis Onde pela floresta se deixavam Andar as belas Deusas, como incautas.Movimentos da esprança e da vontade, Algumas doces cítaras tocavam,Buscar na linha fria do horizonte Algumas harpas e sonoras flautas, Outras com os arcos de ouro se fingiamA árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte - Seguir os animais, que não seguiam.Os beijos merecidos da Verdade.
Mensagem, Horizonte• Comentários:• "teus medos tinham coral, e praias e arvoredos"- o medo do desconhecido é o temor infundado do que se imagina como real. Fernando Pessoa exemplifica dizendo que o medo ancestral do mar era sem fundamento: não havia monstros ou turbilhões que afundassem os navios - quando ultrapassámos o medo só encontrámos praias e arvoredos, flores e aves...• "mistério"- termo muito utilizado por Pessoa na acepção de desconhecido, indescoberto.• "Sul sidéreo"- Sul sideral, isto é, sul celeste - aqui refere-se à constelação Cruzeiro do Sul que indica a direcção do polo austral.• "iniciação"- cerimónia pela qual se começa a explicar a alguém os mistérios de alguma religião ou doutrina. O termo está frequentemente associado aos ritos das sociedades ditas secretas. Aqui a iniciação refere-se ao esclarecimento geográfico.• "resplendia sobre as naus da iniciação"- brilhava (resplandecia) sobre as naus que demandavam o desconhecido para o desvendar.• Este é um dos poemas que demonstram um Pessoa nacionalista místico, que respira um patriotismo de exaltação e de incitamento. Ler: “Elogio do Sonho”, Livro do Desassossego (pág. 257)
INTERTEXTUALIDADE: Os Lusíadas vs Mensagem37 41"Porém já cinco Sóis eram passados "E disse: — "Ó gente ousada, mais que quantasQue dali nos partíramos, cortando No mundo cometeram grandes cousas, O MOSTRENGOOs mares nunca doutrem navegados, Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,Prosperamente os ventos assoprando, E por trabalhos vãos nunca repousas, O mostrengo que está no fim do marQuando uma noite estando descuidados, Pois os vedados términos quebrantas, Na noite de breu ergueu-se a voar;Na cortadora proa vigiando, À roda da nau voou trez vezes, E navegar meus longos mares ousas, Voou trez vezes a chiar,Uma nuvem que os ares escurece Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho, E disse: «Quem é que ousou entrarSobre nossas cabeças aparece. Nunca arados destranho ou próprio lenho: Nas minhas cavernas que não desvendo, Meus tectos negros do fim do mundo?»39 42 E o homem do leme disse, tremendo:"Não acabava, quando uma figura - "Pois vens ver os segredos escondidos «El-rei D. João Segundo!»Se nos mostra no ar, robusta e válida, Da natureza e do húmido elemento, «De quem são as velas onde me roço?De disforme e grandíssima estatura, A nenhum grande humano concedidos De quem as quilhas que vejo e ouço?»O rosto carregado, a barba esquálida, De nobre ou de imortal merecimento, Disse o mostrengo, e rodou trez vezes,Os olhos encovados, e a postura Ouve os danos de mim, que apercebidos Trez vezes rodou immundo e grosso.Medonha e má, e a cor terrena e pálida, «Quem vem poder o que só eu posso, Estão a teu sobejo atrevimento, Que moro onde nunca ninguém me visseCheios de terra e crespos os cabelos, Por todo o largo mar e pela terra, E escorro os medos do mar sem fundo?»A boca negra, os dentes amarelos. Que ainda hás de sojugar com dura guerra. E o homem do leme tremeu, e disse: «El-rei D. João Segundo!»40"Tão grande era de membros, que bem posso 43 Trez vezes do leme as mãos ergueu,Certificar-te, que este era o segundo - "Sabe que quantas naus esta viagem Trez vezes ao leme as reprendeu,De Rodes estranhíssimo Colosso, Que tu fazes, fizerem de atrevidas, E disse no fim de tremer trez vezes: Inimiga terão esta paragem «Aqui ao leme sou mais do que eu:Que um dos sete milagres foi do mundo: Sou um povo que quere o mar que é teu;Com um tom de voz nos fala horrendo e grosso, Com ventos e tormentas desmedidas. E mais que o mostrengo, que me a alma temeQue pareceu sair do mar profundo: E da primeira armada que passagem E roda nas trevas do fim do mundo, Fizer por estas ondas insofridas, Manda a vontade, que me ata ao leme,Arrepiam-se as carnes e o cabelo D El-rei D. João Segundo!»A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo. Eu farei dimproviso tal castigo, Que seja mor o dano que o perigo. Mensagem, II-4 Os Lusíadas, canto V
INTERTEXTUALIDADE: Os Lusíadas vs MensagemO MOSTRENGO Comentário:O Mostrengo que está no fim do marNa noite de breu ergueu-se a voar; Este é um dos poemas mais conhecidos de Mensagem. AquandoÀ roda da nau voou três vezes,Voou três vezes a chiar, das suas duas primeiras publicações chamava-se "O Morcego" eE disse: «Quem é que ousou entrar referia "o morcego que está no fim do mar..." mas o serNas minhas cavernas que não desvendo, simbólico foi dignificado pela transformação em Mostrengo, naMeus tectos negros do fim do mundo?»E o homem do leme disse, tremendo: revisão anterior à edição de Mensagem em livro.«El-rei D. João Segundo!»«De quem são as velas onde me roço? - O poema simboliza o medo do desconhecido (o “Mostrengo")De quem as quilhas que vejo e ouço?» que os navegadores portugueses tiveram que vencer.Disse o Mostrengo, e rodou três vezes,Três vezes rodou imundo e grosso. - A causa próxima dessa coragem é, segundo Fernando Pessoa,«Quem vem poder o que só eu posso, as ordens do rei D. João II.Que moro onde nunca ninguém me visseE escorro os medos do mar sem fundo?» - Existe uma razão para isso: quando Gil Eanes voltou de umaE o homem do leme tremeu, e disse: tentativa falhada de dobrar o Cabo Bojador, o Infante mandou-o«El-rei D. João Segundo!» voltar para tentar novamente e o navegador venceu o temorTrês vezes do leme as mãos ergueu, para não desagradar ao seu bondoso patrono.Três vezes ao leme as repreendeu,E disse no fim de tremer três vezes:«Aqui ao leme sou mais do que eu: - Mas com D. João II o trato era diferente, porque ele era o tipoSou um povo que quer o mar que é teu; de homem que não admitia que aqueles em quem confiavaE mais que o Mostrengo, que me a alma temeE roda nas trevas do fim do mundo, falhassem - os comandantes preferiam enfrentar todos osManda a vontade, que me ata ao leme, dragões do mar à fúria do seu senhor e, por isso, o poemaD El-rei D. João Segundo!» encerra também uma ironia - a natureza da "vontade" que ata o homem do leme à rota é que o temor do seu rei é maior do que o terror do mar ignoto!
• 71• 65 De uma os cabelos de ouro o vento leva Assim lhe aconselhara a mestra experta; Correndo, e de outra as fraldas delicadas; Que andassem pelos campos espalhadas; Acende-se o desejo, que se ceva Nas alvas carnes súbito mostradas; Que, vista dos barões a presa incerta, Uma de indústria cai, e já releva, Se fizessem primeiro desejadas. Com mostras mais macias que indignadas, Algumas, que na forma descoberta Que sobre ela, empecendo, também caia Quem a seguiu pela arenosa praia. Do belo corpo estavam confiadas, Posta a artificiosa formosura, 72 Outros, por outra parte, vão topar Nuas lavar-se deixam na água pura, Com as Deusas despidas, que se lavam: Elas começam súbito a gritar, Como que assalto tal não esperavam.• 68 Umas, fingindo menos estimar Começam de enxergar subitamente A vergonha que a força, se lançavam Nuas por entre o mato, aos olhos dando Por entre verdes ramos várias cores, O que às mãos cobiçosas vão negando. Cores de quem a vista julga e sente Que não eram das rosas ou das flores, • 83 Mas da lã fina e seda diferente, Ó que famintos beijos na floresta, E que mimoso choro que soava! Que mais incita a força dos amores, Que afagos tão suaves, que ira honesta, De que se vestem as humanas rosas, Que em risinhos alegres se tornava! O que mais passam na manhã, e na sesta, Fazendo-se por arte mais formosas. Que Vénus com prazeres inflamava, Melhor é experimentá-lo que julgá-lo, Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.• 70 "Sigamos estas Deusas, e vejamos • 84 Se fantásticas são, se verdadeiras." Desta arte enfim conformes já as formosas Isto dito, velozes mais que gamos, Ninfas com os seus amados navegantes, Os ornam de capelas deleitosas Se lançam a correr pelas ribeiras. De louro, e de ouro, e flores abundantes. Fugindo as Ninfas vão por entre os ramos, As mãos alvas lhes davam como esposas; Mas, mais industriosas que ligeiras, Com palavras formais e estipulantes Se prometem eterna companhia Pouco e pouco sorrindo e gritos dando, Em vida e morte, de honra e alegria. Se deixam ir dos galgos alcançando. • 91 Não eram senão prémios que reparte Por feitos imortais e soberanos O mundo com os varões, que esforço e arte Divinos os fizeram, sendo humanos. Que Júpiter, Mercúrio, Febo e Marte, Eneias e Quirino, e os dois Tebanos, Ceres, Palas e Juno, com Diana, Todos foram de fraca carne humana.
MENSAGEM, 3ª parte “O Encoberto”: Os Símbolos / Os Avisos / Os Tempos• 3ª Epígrafe: “Pax in Excelsis” (Paz nas alturas) - Os ciclos da pátria: - 1ª parte – Portugal que se realiza na Terra - 2ª parte - Portugal que se realiza no Mar - 3ª parte - Portugal que se realiza no Céu - Conclusão: Na economia da obra “Mensagem”, estão presentes, pois, os 4 elementos: 1ª parte – TERRA 2ª parte – ÁGUA 3ª parte – AR e FOGO
MENSAGEM, 3ª parte “O Encoberto”• As três idades da História de Portugal em “Mensagem”: - fundação do reino – 1ª dinastia - expansão ultramarina (descobertas; conquistas; evangelização) – 2ª dinastia - santificação e glorificação do mundo – dinastia a haver.• Nota: - em “Mensagem”, não figuram as 4 dinastias da História de Portugal (a filipina e a bragantina); - o poeta sugere que no final da 2ª dinastia, Portugal morre e é metonimicamente sepultado com D. Sebastião. - Conclusão: a 3ª dinastia surgirá após a ressurreição e o regresso de D. Sebastião.• Na terceira parte: - Anuncia-se a “paz nas alturas” o Quinto Império, a criar sob a égide de Portugal, será essencialmente um império do espírito, realizado sob o signo da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade: o Espírito Santo.
MENSAGEM, 3ª parte “O Encoberto”- “O Encoberto” = o fim do Império (morte);- O Quinto Império (Ressureição que emerge do Nevoeiro) Os Símbolos (cinco) Os Avisos (três) Os Tempos (cinco) D. Sebastião O Bandarra Noite O Quinto Império António Vieira Tormenta O Desejado S’crevo Meu Livro… Calma As ilhas Afortunadas Antemanhã O Encoberto Nevoeiro Símbolos: -D. Sebastião aparece 3 vezes (três nomes diferentes), em analogia com a unidade e trindade em Deus. - o simbolismo dos números (3, 5, 13) - (…)
MENSAGEM, 3ª parte “O Encoberto” Comentários:D. SEBASTIÃO Sperai! Caí no areal e na hora adversa • "Esperai!"- esperai pelo meu regresso! Que Deus concede aos seus Para o intervalo em que esteja a alma • "Caí... para o intervalo em que imersa esteja a alma imersa..."- morri e Em sonhos que são Deus. a minha alma repousa na paz de Deus. Que importa o areal e a morte e a • "areal"- o campo de Alcácer desventura Quibir. Se com Deus me guardei? • "com Deus me guardei"- com a É O que eu me sonhei que eterno dura, Fé me protegi. É Esse que regressarei. • "É O que eu me sonhei... "- sonhei-me Imperador (do Quinto Império) e esse sonho sobreviveu à minha morte; é como tal que voltarei.
MENSAGEM, terceira parte “O Encoberto” – 12º 1 A2O QUINTO IMPÉRIO Comentários:Triste de quem vive em casa, • "Triste de quem..."- a mesma noção já encontrada em O dasContente com o seu lar, Quinas de que ser feliz é uma infelicidade porque se viveSem que um sonho, no erguer de asa, maquinalmente e não para o sonho ou para os cometimentos.Faça até mais rubra a brasaDa lareira a abandonar! • "a lição da raiz - ter por vida a sepultura"- na própria essência material do homem está, desde a sua origem, a inevitabilidadeTriste de quem é feliz! da morte.Vive porque a vida dura.Nada na alma lhe dizMais que a lição da raiz - • "passados os quatro tempos do ser que sonhou"- referência aoTer por vida a sepultura. rei assírio Nabucodonosor que, segundo a Bíblia, sonhou com uma estátua de quatro metais que o profeta Daniel interpretouEras sobre eras se somem como uma premonição de quatro grandes impérios sucessivos,No tempo que em eras vem. dos quais o seu era cronologicamente o primeiro.Ser descontente é ser homem.Que as forças cegas se domem • "que no atro da erma noite começou"- que começou nas trevasPela visão que a alma tem! da noite deserta.E assim, passados os quatro • "Grécia, Roma, Cristandade, Europa"- os quatro impérios queTempos do ser que sonhou, Pessoa pensava ajustarem-se ao sonho do rei assírio.A terra será teatro • "vão para onde vai toda a idade"- envelhecem e morrem;Do dia claro, que no atro desaparecem.Da erma noite começou. • "Quem vem viver a verdade?"- o Quinto Império sonhado por pessoa é uma abstracção de Luz (ou Verdade, ou Cultura -Grécia, Roma, Cristandade, todos os termos são, nesta acepção, equivalentes). A fraseEuropa - os quatro se vão deve ser lida "Quem vem viver o Quinto Império?".Para onde vai toda a idade.Quem vem viver a verdade • "Quem vem viver a verdade que morreu Dom Sebastião?“ -Que morreu Dom Sebastião? completa, a frase torna-se uma interrogação meramente retórica, a menos que se tome "que" na acepção de "porque" ou "para a qual". Nesse caso a frase torna-se "Quem viver a verdade (do Quinto Império) para a qual D. Sebastião morreu".
MENSAGEM, terceira parte “O Encoberto” Comentários: • "Onde quer que jazas entre sombras, sente-te sonhado e ergue-te para teu novo fado"- onde quer que a tua alma esteja,O DESEJADO pressente que esperamos por ti e renasce para o teu novo destino“.Onde quer que, entre sombras e dizeres, • "Galaaz com pátria"- O Desejado, D.Sebastião que éJazas, remoto, sente-te sonhado, equiparado a Sir Galahad, o cavaleiro virgem do Ciclo da TávolaE ergue-te do fundo de não-seres Redonda a quem foi dado conhecer o Santo Graal. A origem de Galahad era desconhecida (não tinha pátria) embora naPara teu novo fado! verdade fosse filho de Sir Lancelot.Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo, • "erguer a alma do teu povo à Eucaristia Nova"- trazer a Portugal a Nova Religião (Pessoa referiu-se várias vezes emMas já no auge da suprema prova, outros escritos ao seu sonho de uma nova religião popular deA alma penitente do teu povo cariz helénico).À Eucaristia Nova. • "Mestre da Paz"- O Senhor do 5º Império, O Desejado; "Excalibur do Fim"- Símbolo do fim do mundo tal como o conhecemos; arauto da Nova Era (cujo estabelecimento é aMestre da Paz, ergue teu gládio ungido, "suprema prova").Excalibur do Fim, em jeito talQue sua Luz ao mundo dividido • "revele o Santo Graal"- no Ciclo da Távola Redonda, o Graal desapareceu como castigo do amor adúltero de Guinevere eRevele o Santo Graal! Lancelot e com ele foi-se a felicidade do Reino. O retorno do Graal representaria, pela mesma lógica, a união, paz e felicidade de todos os povos do mundo.
MENSAGEM, terceira parte “O Encoberto”, Os Símbolos, quarto • NOTAS:AS ILHAS AFORTUNADAS • As Ilhas Afortunadas são uma lenda medieval.Que voz vem no som das ondas • Por vezes, o nome é associado a ilhas maravilhosas (porque não é a voz do mar? exemplo, com cidades de ouro puro) que teriam existência realÉ a voz de alguém que nos fala, e chegavam até a estar indicadas nos mapas náuticos;mas que, se escutamos, cala, • Outras vezes, referiam-se declaradamente a ilhas que podiampor ter havido escutar. ser vistas pelos mareantes mas nunca alcançadas. • Provavelmente ,a lenda foi sugerida por fenómenosE só se, meio dormindo, atmosféricos que provocavam miragens de terras inexistentes no meio do mar.sem saber de ouvir ouvimos,que ela nos diz a esperança - "onde o Rei mora esperando“:a que, como uma criança • de novo, Fernando Pessoa faz uma convolução das lendas dadormente, a dormir sorrimos. Távola Redonda e do Desejado.São ilhas afortunadas, • Supostamente, depois da batalha de Camlann em que Artursão terras sem ter lugar, matou Mordred, mas onde foi, ele também, mortalmenteonde o Rei mora esperando. ferido, o rei moribundo foi levado para a Ilha de Avalon (umaMas, se vamos despertando, "ilha afortunada"), onde, em vez de morrer, ficou adormecido para um dia voltar numa hora de suprema necessidade paracala a voz, e há só o mar. salvar o seu povo e restaurar o seu reino. 26-03-1934 • Poema intensamente irónico; • Funciona como introdução a “Os Avisos”, parte II.
Os Lusíadas, canto IX, est. 54, 64 “ILHA DOS AMORES”• 54 Três formosos outeiros se mostravam • 64 Erguidos com soberba graciosa, Que de gramíneo esmalte se adornavam.. Nesta frescura tal desembarcavam Na formosa ilha alegre e deleitosa; Já das naus os segundos Argonautas, Claras fontes o límpidas manavam Onde pela floresta se deixavam Do cume, que a verdura tem viçosa; Andar as belas Deusas, como incautas. Por entre pedras alvas se deriva Algumas doces cítaras tocavam, A sonorosa Ninfa fugitiva. Algumas harpas e sonoras flautas, Outras com os arcos de ouro se fingiam Seguir os animais, que não seguiam.
MENSAGEM, terceira parte “O Encoberto”, Os Símbolos Comentários: O ENCOBERTO - Este curioso poema é uma sucessão de referênciasQue símbolo fecundo cruzadas à mística rosicruciana.Vem na aurora ansiosa? - Os Rosa-Cruz foram (são?) uma sociedade secreta cujasNa Cruz Morta do Mundo origens provavelmente remontam ao século XVII. AQUI.A Vida, que é a Rosa. - Parece que, originalmente, seria um grupo secreto de homens cultos e superiormente desinteressados queQue símbolo divino sonhavam controlar os destinos da humanidade deTraz o dia já visto? maneira a assegurar o advento de um mundo pacífico eNa Cruz, que é o Destino, feliz (na prática, uma variante da noção do Quinto Império).A Rosa, que é o Cristo. - As diversas cisões e criação de sociedades sob o mesmo nome obliteraram as pistas quanto à permanência real deQue símbolo final uma sociedade secreta que represente a presença actual de uma herança multisecular ininterrupta.Mostra o sol já desperto?Na Cruz morta e fatal - Existem várias interpretações da simbologia da Rosa eA Rosa do Encoberto. da Cruz. 21/2/1933; 11/2/1934 - a Rosa é uma representação do círculo e está associada a ideais de perfeição que são metas; - a Cruz representa, por exemplo, as atribulações que há a ultrapassar ou vencer para as atingir.
“Os Avisos”• Quando Pessoa diz “Avisos”, refere-se àqueles que foram avisados (ajuizados, acertados), aqueles que, atempadamente, viram o regresso do Rei menino de maneira correcta.• Por isso, Pessoa deixou o «pré-aviso» das “Ilhas Afortunadas”, insistindo na visão espiritual e não material do regresso do Rei.• Noutro sentido, Pessoa refere-se àqueles que anunciaram (avisaram) do regresso do Rei.
MENSAGEM, terceira parte “O Encoberto”, Os Avisos Comentários: • Pessoa refere-se, neste poema, a Gonçalo Anes, sapateiro de Trancoso, que escreveu uns versos de carizO BANDARRA profético, na época de D. João III. Neles, vêem alguns a previsão doSonhava, anónimo e disperso, período de domínio filipino, ao Império por Deus mesmo visto, Restauração e uma posterior expansãoconfuso como o Universo imperial que está, na sua origem,e plebeu como Jesus Cristo. próxima da convicção de Padre António Vieira quanto ao advento deNão foi nem santo nem herói, um Quinto Império português quemas Deus sagrou com Seu sinal teria sido destinado por Deus ("poreste, cujo coração foi Deus mesmo visto").não português mas Portugal. 28/03/1930 • Este que "Deus sagrou com seu sinal"- este, a quem Deus deu o dom da profecia.
MENSAGEM, terceira parte “O Encoberto”, Os Avisos ANTÓNIO VIEIRA Comentários:O céu strela o azul e tem grandeza. • Este é um belíssimo poema de Mensagem que bem poderia ilustrar a afirmação deEste, que teve a fama e à gloria tem, que a poesia de Fernando Pessoa é para serImperador da língua portuguesa, compreendida e não explicada.Foi-nos um céu também. • A leitura transmite imediatamente, através de imagens suscitadas pelo texto, a visão doNo imenso espaço seu de meditar, poeta.Constelado de forma e de visão, • No entanto uma análise estritamente literal das frases individuais revelaria inesperadasSurge, prenúncio claro do luar, complexidades.El-Rei D. Sebastião. • "imperador da língua portuguesa"- epíteto dado por Pessoa ao Padre António VieiraMas não, não é luar: é luz do etéreo. que foi o maior orador do seu tempo e umÉ um dia; e, no céu amplo de desejo, dos mais admiráveis estilistas da prosa portuguesa.A madrugada irreal do Quinto Império • “Surge, prenúncio claro do luar, / El-Rei D.Doira as margens do Tejo. Sebastião"- refere-se aos escritos do Padre António Vieira sobre as esperanças de 31/7/1929 Portugal, que um grande rei conduziria a futuro Quinto Império do Mundo. • "luz do etéreo"- luz celeste.
MENSAGEM, terceira parte “O Encoberto”, Os Avisos (TERCEIRO AVISO) Comentários:Screvo meu livro à beira-mágoa. - Único poema de Mensagem que não tem nome;Meu coração não tem que ter. - Fernando Pessoa fala como sucessor do Bandarra e do Padre AntónioTenho meus olhos quentes de água. Vieira:Só tu, Senhor, me dás viver. - também ele anuncia a boa nova - o advento do Rei que conduzirá Portugal ao Quinto Império;Só te sentir e te pensar - anuncia-o, não como profeta ungido (que só o Bandarra teria sido,Meus dias vácuos enche e doura. já que Vieira derivou as suas conclusões das trovas do antecessor eMas quando quererás voltar? das Sagradas Escrituras) mas como Homem de Razão que sabe eQuando é o Rei? Quando é a Hora? que espera (e desespera, como acentua); - a ter nome, o poema chamar-se-ia "Fernando Pessoa" e por isso oQuando virás a ser o Cristo não tem.De a quem morreu o falso Deus,E a despertar do mal que existo "Senhor"- O Encoberto, também chamado "Rei"..A Nova Terra e os Novos Céus? "dias vácuos"- dias monótonos, vazios. "o Cristo de a quem morreu o falso Deus"- o meu Cristo. Pessoa nãoQuando virás, ó Encoberto, acreditava no Deus da Igreja Católica Romana, nem na divindade do seuSonho das eras português, Cristo que com Ele se confunde (o "falso Deus").Tornar-me mais que o sopro incerto "a Nova Terra e os Novos Céus"- o Quinto Império (referência à expressãoDe um grande anseio que Deus fez? usada na 2ª Epístola de S. Pedro para designar o Terceiro Mundo - ver o comentário ao poema "Antemanhã"). "sonho das eras português"- sonho secular dos portugueses.Ah, quando quererás, voltando,Fazer minha esperança amor? "tornar-me mais que o sopro incerto de um grande anseio que Deus fez"- quando Pessoa se refere a Deus, refere-se ao Criador (em que acreditava)Da névoa e da saudade quando? e Arquitecto do Destino. Aqui ele diz-nos que, com o advento doQuando, meu Sonho e meu Senhor? Encoberto, que esperava para os seus dias, ele tornar-se- 10/12/1928 ia mais do que a voz quase inaudível que exprimia um sonho nacional.
“Os Tempos”• Pessoa já usara a expressão Tempos no poema “Quinto Império” (“passados os quatro / Tempos do ser que sonhou”).• Os Tempos serão, pois, os 4 Impérios do passado e o 5º, o Império do futuro.• Curiosamente, o quinto poema desta parte corresponde ao título “Nevoeiro” – depreende-se que seja o tempo do presente, o momento em que o poeta nos fala; - o Quinto Império será consequência do regresso do Rei D. Sebastião, aquele que, na profecia popular, voltará numa manhã de nevoeiro.
MENSAGEM, terceira parte “O Encoberto”, Os Tempos NOITE Comentários:A nau de um d’eles tinha-se perdido • O poema refere o episódio da exploração da América pelosno mar indefinido. irmãos Corte-Real: Gaspar explorou as costas do Canadá emO segundo pediu licença ao Rei 1500, mas não regressou de uma viagem similar no anode, na fé e na lei seguinte. O seu irmão Miguel foi procurá-lo com três naviosda descoberta ir em procura que se separaram ao atingir a América. O navio de Migueldo irmão no mar sem fim e a névoa escura. nunca mais foi visto embora os outros dois tenham regressadoTempo foi. Nem primeiro nem segundo a Portugal. Finalmente o terceiro irmão, Vasco, viu recusadovolveu do fim profundo por D.,ManueI o pedido de autorização de procurar os irmãos,do mar ignoto à pátria por quem dera uma vez que a sua eventual morte representaria o fim dao enigma que fizera. linhagem. O rei enviou, ele-próprio, uma expedição deEntão o terceiro a El-Rei rogou salvamento que não encontrou vestígios dos desaparecidos.licença de os buscar, e El-Rei negou. • "Noite" (em relação ao advento do Quinto Império) refere umComo a um cativo, o ouvem a passar episódio apropriadamente passado antes do Bandarra ou D.os servos do solar. Sebastião terem sequer nascido, mas é provável que tenha sidoE, quando o vêem, vêem a figura redigido para outro fim e aproveitado por Pessoa quando, emda febre e da amargura, 1934, se apressava a completar Mensagem para apresentar ocom fixos olhos rasos de ânsiafitando a proibida azul distancia. livro a um concurso de poesia. • "não volveu à pátria por quem dera o enigma que fizera"- nãoSenhor, os dois irmãos do nosso Nome voltou à Pátria pela qual deu a vida (o enigma é a circunstância– O Poder e o Renome – do seu misterioso desaparecimento).ambos se foram pelo mar da idadeà tua eternidade; • "ambos se foram à Tua eternidade"- ambos morreram.e com eles de nós se foi • "com eles de nós se foi o que faz a alma poder ser de herói"-o que faz a alma poder ser de herói. com eles perdeu Vasco o alento e a ousadia.Queremos ir buscá-los, d’esta vil • "queremos ir buscá-los desta vil prisão"- (fala Vasco) queronossa prisão servil: morrer para ir ter com eles (a "prisão servil" é a vida).é a busca de quem somos, na distanciade nós; e, em febre de ânsia, • "Deus não dá licença que partamos"- falhado o pedido feito aoa Deus as mãos alçamos. rei para ir em busca dos irmãos, Vasco pede então a Deus que o liberte da amargura e o leve para se reunir aos irmãos noMas Deus não dá licença que partamos. Além, mas Deus não lhe concede a morte...
MENSAGEM, terceira parte “O Encoberto”, Os Tempos • Comentários: • "a noite é o fausto do mistério"- a noite é a pompa do desconhecido; é de noite que TORMENTA o desconhecido assume toda a sua grandeza (ou é mais terrível)..Que jaz no abismo sob o mar que se ergue? • "o relâmpago, farol de Deus, um haustoNós, Portugal, o poder ser. brilha"- o relâmpago reluz por umQue inquietação do fundo nos soergue? instante (literalmente: pelo tempo de umaO desejar poder querer. inalação rápida). "e o mar escuro estruge"- o mar estrondeia (faz umIsto, e o mistério de que a noite é o fausto... estrépito muito alto).Mas súbito, onde o vento ruge, • o poema é sobre uma tormenta simbólica:O relâmpago, farol de Deus, um austo a agitação íntima de Portugal que,Brilha, e o mar scuro struge. segundo Pessoa, aspira ser a nação do Quinto Império. • E no negrume da ignorância do Seu desígnio, Deus indica-o por um breve instante (supostamente através do próprio F. Pessoa que seria, assim, o "farol de Deus").
MENSAGEM, terceira parte “O Encoberto”, Os Tempos CALMA Comentários:Que costa é que as ondas contam • Este estranho poema deve ser comparado ao intituladoe se não pode encontrar "Ilhas Afortunadas" que versa o mesmo tema e foipor mais naus que haja no mar? escrito alguns dias mais tarde.O que é que as ondas encontrame nunca se vê surgindo? • É provável que o poema agora intitulado "Calma" tenhaEste som de o mar praiar sido a primeira versão de "Ilhas Afortunadas" e tenhaonde é que está existindo? sido repescado para a última parte de Mensagem que foi preparada com um prazo muito curto e, destinando-se aIlha próxima e remota, um concurso que impunha um número mínimo deque nos ouvidos persiste, páginas, obrigava o poeta a incluir mais material do quepara a vista não existe. o que, de outra maneira, poderia ter incluído.Que nau, que armada, que frotapode encontrar o caminho • Este poema representa uma espécie de tempo deà praia onde o mar insiste, paragem para reflexão, o que talvez tenha justificado ose à vista o mar é sozinho? seu nome.Haverá rasgões no espaço • "rasgões no espaço que dêem para outro lado"- esteque dêem para outro lado, conceito dos mundos paralelos ou túneis para outrose que, um d’eles encontrado, mundos, hoje lugar comum nos contos de ficçãoaqui, onde há só sargaço, científica e parcialmente alvo de estudos pelos físicossurja uma ilha velada, teóricos, é altamente surpreendente para a época eo país afortunado suscita a questão de se Pessoa o terá imaginado ou seque guarda o Rei desterrado terá tido notícia dele através de revistas de ficçãoem sua vida encantada? científica americanas. 15/2/1934
MENSAGEM, terceira parte “O Encoberto”, Os Tempos Comentários: ANTEMANHÃ • "a madrugada do novo dia, do novo dia sem acabar"- aO mostrengo que está no fim do mar alvorada do Quinto Império (que será eterno).Veio das trevas a procurar • "desvendou o Segundo Mundo, nem o Terceiro querA madrugada do novo dia, desvendar"- referência à Segunda Epístola de S. Pedro, ondeDo novo dia sem acabar; o apóstolo divide os Tempos em três:E disse, «Quem é que dorme a lembrar – o Primeiro Mundo, que durou desde a Criação até aoQue desvendou o Segundo Mundo, Dilúvio;Nem o Terceiro quer desvendar?» – o Segundo Mundo, em que vivemos, que durará até à segunda vinda de Cristo - que supostamente reinará porE o som na treva de ele rodar mil anos -Faz mau o sono, triste o sonhar. – e o Terceiro Mundo que se segue e que perduraráRodou e foi-se o mostrengo servo eternamente e é, nesta alegoria, confundido com oQue seu senhor veio aqui buscar, Quinto Império.Que veio aqui seu senhor chamar – • "Aquele que está dormindo e foi outrora Senhor do Mar"- D.Chamar Aquele que está dormindo Sebastião ou Portugal, que nesta acepção se confundem.E foi outrora Senhor do Mar. • Face a "O Mostrengo" de Mar Português conclui-se que Pessoa quer de novo simbolizar o medo do desconhecido, 8/7/1933 agora não do mar ignoto, mas da via para o Quinto Império na qual Portugal ainda não se lançara (está dormindo). • No entanto o mostrengo que um dia foi soberano é agora servo de Portugal (o medo já não será nosso, mas de outros) que procura, debalde, para o início do caminho. O nome deste poema indica que está a chegar a hora, "a madrugada do novo dia".
MENSAGEM, terceira parte “O Encoberto”, Os Tempos Comentários: NEVOEIRO • Neste poema, o último de Mensagem,Nem rei nem lei, nem paz nem guerra, Fernando Pessoa transmite uma imagemdefine com perfil e ser desencantada da realidade do Portugal doseste fulgor baço da terra seus dias... Mas, para concluir, que essaque é Portugal a entristecer – situação é, afinal, o nevoeiro de que falam asbrilho sem luz e sem arder, profecias e que marcará o regresso de D.como o que o fogo-fátuo encerra. Sebastião. • A conclusão de que o nevoeiro que seNinguém sabe que coisa quer. esperava não é, afinal, literal (físico), masNinguém conhece que alma tem, antes simbólico (social e político), permite-lhenem o que é mal nem o que é bem. acabar o poema com uma "volta" final ao(Que ânsia distante perto chora?) gritar: "É a Hora!".Tudo é incerto e derradeiro.Tudo é disperso, nada é inteiro. • "fogo-fátuo"- chama azulada, em geral breve,Ó Portugal, hoje és nevoeiro... resultante da combustão espontânea de uma mistura de metano e ar em determinadasÉ a Hora! proporções. O metano (gás dos pântanos) é produzido naturalmente pela decomposição VALETE FRATRES! da matéria orgânica, vegetal ou animal. A combustão produz calor, mas como é muito breve a chama pode parecer fria.
CONCLUSÃO• “É a Hora!” – Pessoa parece ter uma “visão histórica da raça por vir”;• Esta mensagem final da Mensagem sugere que a obra de Pessoa seja positiva.• Ironicamente, a última mensagem de Mensagem é – como se acredita que era a alma do poeta – um elogio da vida e não de morte.• A “Hora” de Pessoa é uma realidade por consumar.• A “Hora” é também o momento em que Pessoa (o seu plano) é lido até ao fim.• Pessoa despede-se com uma nova elocução latina (Valete Fratres!), retirada de um ritual maçónico; tem, por isso, um significado hermético: pretende comunicar que se despede de todos aqueles iniciados, seus irmãos templários e rosa-cruzes, que compreendem a(s) sua(s) mensagem(ens) e agirão com vista à construção do futuro da Pátria.• Haverá muito de amargura no adeus final: sabe Pessoa que a Pátria futura não será nunca esse regresso ao passado de criança (a Pátria pura, com pai e mãe atenciosos e dedicados, sem solidão, sem «dor de pensar».).• A mensagem oculta de Mensagem é, pois,… procurar no íntimo a razão que ilumina a vida que vale a pena ser vivida. (É uma mensagem positiva, optimista)
Os Lusíadas / Mensagem• Mensagem vs Os Lusíadas• Da face interna, emblemática - arquitectura, aliás, de sentido ocultista - da Mensagem, infere-se um carácter menos narrativo e mais interpretativo, mais cerebral, que o d Os Lusíadas.• No poema camoniano, há uma tendência abstractizante, livresca;• N’Os Lusíadas, a ideia de pátria é «uma noção abstracta, fora da história», e os heróis históricos se reduzem a «puras abstracções» ou «medalhões convencionais».• Apesar desta afinidade entre Camões e Pessoa, este leva o cerebralismo muito mais longe, possui aquilo a que Cesare Pavese chamava «o senso heráldico», isto é, a faculdade de ver símbolos em tudo.
Os Lusíadas / Mensagem• Os heróis da galeria da Mensagem funcionam como símbolos, elos duma trajectória cujo sentido Pessoa se propõe desvelar até onde o permite o olhar visionário.• O assunto da Mensagem não são os portugueses ou eventos concretos, mas a essência de Portugal e a sua missão por cumprir.• Em fragmento recolhido nas Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, Pessoa censurava a Os Lusíadas a falta dum pensamento.• Ora, na Mensagem é a redução a um pensamento que descarna, espectraliza as personagens da História nacional.
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Mensagem
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MENSAGEM DE FERNANDO PESSOA
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http://www.slideshare.net/tonia.m/mensagem-1128751
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Mensagem - Presentation Transcript
escola secundária gil eanes . literatura portuguesa II . professora antónia mancha . ano lectivo 2008/2009 E a nossa grande Raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas “daquilo que os sonhos são feitos”. Fernando Pessoa, in A Águia
Figura grande do nosso Modernismo . No entanto, e por estar atento ao mundo literário português, cedo se envolve com outras correntes, participando, por exemplo, na revista Águia , voz principal do Saudosismo português. Este movimento, (contemporâneo da Implantação da República) cuja principal figura é Teixeira de Pascoaes, baseia-se essencialmente na Saudade , entendida como a necessidade de existir algo ou alguém que oriente a alma portuguesa. No fundo, a saudade de uma Pátria Nova, ressuscitadora de valores considerados perdidos. É neste âmbito que se traz, de novo, D. Sebastião, não como prenúncio de desgraças e tragédias, mas como anunciador de um novo espírito lusitano. FERNANDO PESSOA escola secundária gil eanes . literatura portuguesa II . professora antónia mancha . ano lectivo 2008/2009
Um pouco antes de tudo isto… Um pouco antes de tudo isto... escola secundária gil eanes . literatura portuguesa II . professora antónia mancha . ano lectivo 2008/2009 Finais do século XIX, primeiros anos do século XX: Nesta altura, influenciados pela Geração de 70, alguns autores manifestam ideias que se pretendem construtoras de uma nova Nação, forte e empreendedora. Alguns exemplos das vozes que se ouviam: A Pátria (1896) - Guerra Junqueiro Crítica violenta à dinastia de Bragança e triste lamento por ter cumprido o sonho messiânico. O Desejado (1902) – António Nobre Depósito de todos os sonhos de renascimento nacional, simbolizado no regresso do Desejado (D. Sebastião). O Encoberto (1904) – Sampaio Bruno Pondo de parte qualquer missão monárquica, adepto entusiasta do idealismo republicano, profetiza para Portugal um futuro radioso. O Encoberto (1905) – Lopes Vieira Alegoria da vinda de D. Sebastião.
Um pouco antes de tudo isto... escola secundária gil eanes . literatura portuguesa II . professora antónia mancha . ano lectivo 2008/2009 É, portanto, deste espírito nacionalista que surge obra inspirada por todos este ideais nacionalistas; obra emblemática, cuja divindade é a Pátria. Cuja religião, o Patriotismo . Mensagem Vejam-se algumas afirmações de Pessoa: “ O meu intenso sofrimento patriótico, o meu intenso desejo de melhorar a condição de Portugal provocou em mim (...) mil projectos...” “ Jamais saberei exprimir o fervor, a intensidade – terna, revoltada e ansiosa - , do meu patriotismo.” “ O sofrimento que isto produz não sei se poderá ser definido como situado aquém da loucura.” Pessoa acreditou sempre que, através do Mito, poderia orientar os portugueses neste sentido patriótico. É assim que, centrado na figura de D. Sebastião, recupera o Mito do Encoberto.
Um pouco antes de tudo isto... escola secundária gil eanes . literatura portuguesa II . professora antónia mancha . ano lectivo 2008/2009 MAS... ... O que é o mito? o mito transmite-nos as tradições culturais de um povo. Na sua essência, é a história da origem das coisas . É, pois, um texto respeitado, mas pouco, ou nada, verosímil à luz da ciência, e que pretende explicar um fenómeno. É como que uma versão alternativa da história de um povo, pois este não abdica da sua história oficial , institucionalmente aceite. O mito é o nada que é tudo. Fernando Pessoa O mito, diz Pessoa, é o nada , pois não é real, no entanto, pelo que representa é tudo , já que tem a força de preencher vazios, de nos incutir o sonho. Pessoa encontrou o caminho, reavivando, como já vinha acontecendo na época, o mito português: o Sebastianismo
Um pouco antes de tudo isto... escola secundária gil eanes . literatura portuguesa II . professora antónia mancha . ano lectivo 2008/2009 Origem do Mito Sebastianista As suas raízes mais profundas encontramo-las nas Trovas de Bandarra que, num tom profético, anunciou a vinda do Salvador, do Encuberto . DEVER-SE-Á CONSIDERAR A EXISTÊNCIA DO
Pré-sebastianismo : Trovas do Sapateiro Bandarra (meados do séc. XVI), que anunciam o Encuberto e as quais são interpretadas, posteriormente à perda da independência (1580), em relação a D. Sebastião.
Que leva a um
Sebastianismo Profético: após a perda da independência, as Trovas são interpretadas em relação a D. Sebastião, cujo regresso se profetizava. Mas a independência consegue-se a 1 de Dezembro de 1640, com D. João IV, é então que, algumas, passam a identificar este rei (caso de Pe. António Vieira) com o Encuberto. Há, no entanto, quem ainda leia as Trovas anúncio do regresso de D. Sebastião.
Um pouco antes de tudo isto... escola secundária gil eanes . literatura portuguesa II . professora antónia mancha . ano lectivo 2008/2009 E sta evolução da crença após a morte do rei chama-se também pós-sebastianismo, que é o que constitui propriamente o mito: o regresso do rei, misteriosamente desaparecido nos areais de Alcácer-Quibir, para resgatar o seu povo do marasmo e da apatia em que se encontra. Daí que se trate de UM MITO MESSIÂNICO ou seja, uma crença que se funda na vinda de um Salvador, que virá libertar o povo e restaurar o prestígio nacional.
Um pouco antes de tudo isto... escola secundária gil eanes . literatura portuguesa II . professora antónia mancha . ano lectivo 2008/2009 Mas convém clarificar a diferença entre: Na sua essência, este é um mito semelhante ao do Messias Cristão ou ao do Rei Artur, senão vejamos: Na Mensagem , Pessoa chama a D. Filipa de Lencastre a Princesa do Santo Graal ; Nuno Álvares Pereira é o escolhido e pode empunhar a Excalibur , o Desejado é Galaaz com pátria e tem como gládio a Excalibur do fim , cuja luz pode revelar o Santo Graal. D. Sebastião, rei de Portugal , figura histórica; este é o ser que houve , que morreu em Alcácer-Quibir . D. Sebastião mítico, o Encoberto, aquele que há-se regressar no ser que há , isto é, que vive na lenda que fecunda o sonho.
Um pouco antes de tudo isto... escola secundária gil eanes . literatura portuguesa II . professora antónia mancha . ano lectivo 2008/2009 Como no mito arturiano, é de lá, de Avalon, que, um dia, el-rei Artur há-de voltar... ...também el-rei Sebastião virá para fundar o . Quinto Império São de Pessoa estas linhas: “ A divisão: Império Grego (...); Império Romano(...); Império Cristão (...); Império Inglês (...) e o Quinto Império, que necessariamente fundirá esses quatro impérios com tudo quanto esteja fora deles, formando pois o império verdadeiramente mundial, ou universal .” “ Comecemos por nos embebedar desse sonho (sebastianismo) , por o integrar em nós, por o incarnar. (...) então se dará na alma da Nação o fenómeno imprevisível de onde nascerão as Novas Descobertas, a Criação do Mundo Novo, o Quinto Império. Terá regressado El-rei D. Sebastião.” Este Quinto Império é, pois, espiritual. Tal como espiritual é a mensagem da Mensagem .
escola secundária gil eanes . literatura portuguesa II . professora antónia mancha . ano lectivo 2008/2009 Mas... afinal que mensagem é essa? Estes Heróis surgem como referências para um futuro glorioso que possa ultrapassar o presente moribundo
- O Ultimatum Inglês que exigia a soberania inglesa nos territórios portugueses em África;
- O poder económico português estava muito baixo;
- Instaura-se a República, que acaba por envolver o país na 1ª grande guerra;
Greves;
-etc.
Inflações, etc.
Portugal, que já dominara o mundo, desvanece, moribundo.. É a do nacionalismo, não aquele exacerbado e perigoso, mas um nacionalismo simbólico, fazendo apelo à alma portuguesa. Em poemas curtos, carregados de sentido, pessoa vai reabilitar os heróis nacionais, sobretudo aqueles que se destacaram na construção da Nação.
escola secundária gil eanes . literatura portuguesa II . professora antónia mancha . ano lectivo 2008/2009 Comecemos pela classificação da obra, diz-se dela que é: Porque assente no mito do Encoberto Porque toda ela plena de simbologia e conhecimentos ocultos Porque um conjunto de 44 pequenos poemas.
Porque, tal como Camões com Os Lusíadas , também aqui se glorifica Portugal, no entanto, em moldes diferentes:
Camões cantou os feitos de heróis e navegadores que criaram um Império baseado no material e que se dissipou.
Pessoa, tentando ultrapassar uma situação de instabilidade, revitaliza alguns desses heróis, mas de forma a que eles sirvam de pilares seguros a um novo Portugal, centro de um Império, desta vez, fundado em valores espirituais (o Quinto Império).
MÍTICA SIMBÓLICA LÍRICA ÉPICA
escola secundária gil eanes . literatura portuguesa II . professora antónia mancha . ano lectivo 2008/2009 Nada na Mensagem foi deixado ao acaso, nem sequer a data da sua publicação: 1 de Dezembro (1934), feriado nacional em que se comemora a independência. Composta por 44 poemas, cuidadosamente construídos ao longo de 28 anos, a Mensagem , que esteve para chamar-se Portugal, apresenta uma estrutura que obedece a uma ordem específica.
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A Mensagem
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MENSAGEM-FERNANDO PESSOA-QUINTO IMPÉRIO
FONTE:
http://www.slideshare.net/leonorlllfernandes/a-mensagem
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A Mensagem - Presentation Transcript
mensagem Fernando Pessoa Sebastianismo e quinto império
O desejado
Onde quer que, entre sombras e dizeres,
Jazas, remoto, sente-te sonhado,
E ergue-te do fundo de não seres
Para teu novo fado!
Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo,
Mas já no auge da suprema prova,
A alma penitente do teu povo
À Eucaristia Nova.
Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido,
Excalibur do Fim, em jeito tal
Que sua Luz ao mundo dividido
Revele o Santo Gral!
O ENCOBERTO
Que símbolo fecundo
Vem na aurora ansiosa?
Na Cruz Morta do Mundo
A Vida, que é a Rosa.
Que símbolo divino
Traz o dia já visto?
Na Cruz, que é o Destino,
A Rosa, que é o Cristo.
Que símbolo final
Mostra o sol já desperto?
Na Cruz morta e fatal
A Rosa do Encoberto.
O quinto império
Triste de quem vive em casa, Grécia, Roma, Cristandade,
Contente com o seu lar, Europa – os quatro se vão
Sem que um sonho, no erguer de asa, Para onde vai toda idade.
Faça até mais rubra a brasa Quem vem viver a verdade
Da lareira a abandonar! Que morreu D. Sebastião?
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz –
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatros
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
O infante
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deus sinal.
Cumpriu-se o mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
D. Filipa de lencastre
Que enigma havia em teu seio
Que só génios concebia?
Que arcanjo teus sonhos veio
Velar, maternos, um dia?
Volve a nós teu rosto sério,
Princesa do Santo Gral,
Humano ventre do Império,
Madrinha de Portugal
Avaliação dos alunos Actividades
Os alunos, do Ensino Secundário, seriam convidados a debruçarem-se e a publicarem no blogue trabalhos de grupo sobre um dos seguintes assuntos:
Pesquisa sobre as teorias do Quinto Império e do Sebastianismo em Fernando Pessoa, Camões, Padre António Vieira, Gonçalo Annes Bandarra ( o sapateiro de Trancoso), e na Bíblia (Profecias de Daniel – Antigo Testamento).
Pesquisa sobre as teorias do Quinto Império e do Sebastianismo em autores modernos, como Agostinho da Silva, Víctor Mendanha, José Manuel Annes, Paulo Alexandre Loução, Rainer Daehnhardt, António Telmo, José Medeiros ou S. Franclim. Poderia ser um trabalho interdisciplinar com a disciplina de FILOSOFIA .
Análise dos poemas de «A Mensagem» aqui apresentados, e de outros à sua escolha, em que fosse feita a análise ideológica dos mesmos, e em que teriam que ser reconhecidas e fundamentadas as ideias relacionadas com o Quinto Império e com o Sebastianismo, patentes nesses textos «lírico-épicos».
O misticismo em Fernando Pessoa comparado com as correntes espiritualistas da actualidade, diga-se, Nova Era (New Age), na Pintura e nas Artes em geral.
Visita de Estudo à Quinta da Regaleira, em Sintra, e consequente elaboração de trabalho, tendo como base as ideias espiritualistas do Quinto Império e do Sebastianismo .
Bibliografia/«sites» consultados/música
Pessoa, Fernando, Obra Poética , 1986, Edição Círculo de Leitores,
Printer Portuguesa;
Mendelssohn, Felix (1809-1847), A Midsummer Night’s Dream, (Nocturne), Razumovsky Symphony Orchestra, 2001;
Mário Ferraz (Pintor)
www.marioferraz.com
Lima de Freitas (Pintor e Escritor)
www.novaera-alvorecer.net.htm
Calatrava, Santiago, (Arquitecto), Concert Hall – Ilhas Canárias
Monumento «Os Descobrimentos», em Belém (Escultura)
www.temporarytemples.co.uk (crop circles)
Criatividade – Estratégias criativas de concepção e aplicação de blogues em contexto educativo
Professora: rita maia e silva
Trabalho de: Mª leonor fernandes
Lisboa, 9 julho 2010
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5.º império
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QUINTO IMPÉRIO
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http://www.slideshare.net/aefcr/5-imprio
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5.º império - Presentation Transcript
Quinto Império
Bíblico
“Ó rei, tu tiveste uma visão. Eis que uma grande, uma enorme estátua se levantava diante de ti; (...) tinha a cabeça de ouro fino, o peito e os braços de prata, o ventre e as ancas de bronze, as pernas de ferro, os pés metade de ferro e metade de barro. (…) uma pedra se desprendeu da montanha, e veio bater nos seus pés, e lhos esmigalhou. (…) A pedra que tinha embatido contra a estátua transformou-se numa alta montanha, que encheu toda a terra.”
Dn 2, 31-35
Sonho do rei da Babilónia…
Cabeça de oiro fino – Reino de Nabucodonosor;
Peito e braços de prata – Reino menor que o anterior;
Ventre e ancas de bronze – Reino dominante
Pernas de ferro/pés metade de ferro, metade de argila – Reino forte e frágil simultaneamente
Pedra – Reino soberano e infinito
Interpretação do sonho…
Padre António Vieira
“Mas não, não é luar: é a luz do etéreo.
É um dia: e, no céu amplo de desejo,
A madrugada irreal do Quinto Império
Doira as margens do Tejo.”
II. Os AvisosSegundo: António Vieira
Império dos Assírios
Império dos Persas
Império dos Gregos
Império dos Romanos
Quinto Império - Português
Divisão dos impérios…
Fernando Pessoa
“O Quinto Império […] parte […] do império espiritual da Grécia, origem do que espiritualmente somos. E, sendo esse o Primeiro Império, o Segundo é o de Roma, o Terceiro o da Cristandade, e o Quarto o da Europa […]. Aqui o Quinto Império terá que ser outro que o inglês, porque terá que ser de outra ordem. Nós o atribuímos a Portugal, para quem o esperamos.”
Fernando Pessoa
Primeiro: Império Grego
Segundo: Império Romano
Terceiro: Império Cristão
Quarto: Império Europeu/ Inglês
Quinto: Império Português
Divisão dos impérios…
Critica ao conformismo
Apologia do sonho
Chegada de uma nova era
Purificação da humanidade
Satisfação dos desejos humanos
Características…
“ Temos felizmente o mito Sebastianista com raízes profundas no passado e na alma portuguesa. Nosso trabalho é pois mais fácil; não temos que criar um mito, senão que renová-lo”
Fernando Pessoa
Sebastianismo & Quinto Império
Pessoa:
Encontrou
Adoptou Mito de D. Sebastião
Aprofundou
Transfigurou
Uniu-o Mito do Quinto Império
Sebastianismo & Quinto Império
Sebastianismo & Quinto Império
Eras sobre eras se somem
No tempo em que eras vem.
Ser descontente é ser homem.
“ Triste de quem vive em casa, Que as forças cegas se domem
Contente com o seu lar, Pela visão que a alma tem!
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa E assim, passados os quatro
Da lareira a abandonar! Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Triste de quem é feliz! Do dia claro, que no atro
Vive porque a vida dura. Da erma noite começou.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz – Grécia, Roma, Cristandade,
Ter por vida a sepultura. Europa – os quatro se vão
Para onde vai toda a idade. Quem vem viver a verdade Que morreu D. Sebastião?”
I. Os SímbolosSegundo: O Quinto Império
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Mensagem2
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MENSAGEM-TERCEIRA PARTE-QUINTO IMPÉRIO
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Mensagem2 - Presentation Transcript
Terceira Parte “O Encoberto” - Pax in excelsis II Os Símbolos Segundo O Quinto Império Triste de quem vive em casa, Contente com o seu lar, Sem que um sonho, no erguer de asa, Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar! Triste de quem é feliz! Vive porque a vida dura. Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz - Ter por vida a sepultura. Eras sobre eras se somem No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem. Que as forças cegas se domem Pela visão que a alma tem! E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou, A terra será teatro Do dia claro, que no atro Da erma noite começou.
Grécia, Roma, Cristandade, Europa - os quatro se vão Para onde vai toda a idade.
Quem vem viver a verdade Que morreu D. Sebastião?
Este poema do Quinto Império, ilustra esperanças e sentimentos, nos quais: uma esperança em que virá um novo Império e que irá resplandecer sobre a terra e o mar e irá um novo mundo nascer, para ser melhor e grande esse Império, e um sentimento de desejo, felicidade e procura, porque todos procuram esse Império Novo e cheio de força. Comentário
Eu gostei muito deste poema, porque achei o mesmo muito interessante, cativante e inspirador. Eu acho que trabalhei muito neste poema da Mensagem e gostei muito de fazer este trabalho, e eu acho que mereço um 16 neste trabalho. Auto - Avaliação
Trabalho Realizado por: João Ramalho nº 8 Inf/Gest 12º Ano
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Apresentação para décimo segundo ano, aula 62
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http://www.slideshare.net/luisprista/apresentao-para-dcimo-segundo-ano-aula-62
Apresentação para décimo segundo ano, aula 62 - Presentation Transcript
o poeta fala que
o poeta diz-nos que
o poeta refere que
o poeta assinala que
o poeta indica que
o poeta acentua que
o poeta pretende significar que
faz coisas
as pessoas
algo
foram quem denunciaram
foram quem denunciou
foram eles que denunciaram
eminente = 'grande'
iminente = 'próximo'
desenlace = 'desfecho'
decurso da peça
acção
intriga
enredo
narrativa
1817 = séc. XIX
1961 = séc. XX
XVIII
XX
regimento (na tropa; de uma assembleia)
regime
estrangeiro (Gomes Freire)
estrangeirado (Gomes Freire)
aclamar [o rei]
clamar por
Embora ele nunca apareça.
Embora ele nunca apareça, tal tal.
ditadura
regime ditatorial
salazarismo
Estado Novo
ia
íamos
iam
período
político
símbolo
cínico
domínio
espírito
físico
sacrifício
ditadura
ditatorial
Felizmente há luar !
aperceber de que
pejorativo
depreciativo
frisar
sublinhar
vincar
acentuar
Pobre de quem vive seguro
Pobre de quem, seguro, se contenta com o pouco que tem
Sem um sonho maior, um desejo
Um íntimo fogo e objectivo
Um sonho maior que faça abandonar todos os confortos e as certezas
Pobre aquele que se dá por contente
Pobre de quem apenas sobrevive e nada mais deseja
Esse não tem alma
Senão o instinto de não morrer
Senão o destino de esperar pela morte em vida
Gerações passam
Num tempo que é feito de gerações
É da natureza humana ser descontente, querer possuir
Mas as forças da guerra, irracionais, param
Perante a visão que só a alma tem
Passados os quatro Impérios
Completado o seu reino terreno
A Terra verá o quinto
Surgir à luz do dia
Ele que começou a gerar-se da noite (morte)
Grécia, Roma, o Império Cristão
A Europa — todas esses Impérios acabaram
Acabaram porque tudo se acaba com o tempo
Falta assim viver o Império da Verdade
O Quinto Império a que preside D. Sebastião
fogo-fátuo = 'fosforescência produzida por emanações de gases dos cadáveres em putrefacção; [ fig. ] esplendor efémero, prazer ou glória que não duram muito tempo'.
Valete, Frates = fórmula de despedida latina, 'saúde, irmãos'.
Nem governante nem leis, nem tempos de paz ou de conflito
Podem definir a verdade, a essência
No que no presente é um fulgor triste
Portugal, país pobre, sem esperança e entristecido
Vida exterior sem luz intensa, sem fogo de paixão e vontade
Como as luzes do fogo-fátuo (que surge dos materiais em decomposição)
Os Portugueses não sabem o que verdadeiramente querem!
Não conhecem a sua alma — o seu Destino
Nem para o bem, nem para o mal
Adivinha-se, no entanto, uma ânsia neles, uma ânsia de querer
Mas tudo é incerto, morte
Tudo em Portugal é parcial, não há vontade de erguer nada
Portugal é, no presente, como o nevoeiro.
É o momento de surgir o Quinto Império, a Nova Vida.
O poema inicia-se com uma imagem negativa de Portugal («a entristecer»). Portugal surge personificado, marcado pela falta de identidade nacional («Nem rei nem lei [até] Nem o que é mal nem o que é bem») e por um estado de indefinição («nada é inteiro»). A simbologia do título ajuda nesta caracterização depreciativa.
Entretanto, surge o parêntese «(Que ânsia distante perto chora?)»,
a assinalar a passagem para um clima menos céptico. A oposição de carácter paradoxal «distante/perto» relaciona-se com a linha ideológica que estrutura esta parte de Mensagem : a simultaneidade da decadência de Portugal e a esperança do seu renascer.
O apelo final, «É a hora!», revela a crença na mudança deste Portugal mergulhado em «nevoeiro», pelo tom exortativo que encerra.
Poema épico
Poema épico-lírico
dez cantos
estrutura triádica: «Brasão», « Mar Português », «O Encoberto»
escritos em meados do século XVI, época do declínio do apogeu expansionista
escrita entre 1913 e 1934, época de desencantos (relativamente a 1.ª República e a Estado Novo )
cariz narrativo e descritivo; dimensão real e concreta
cariz abstracto e interpretativo; dimensão simbólica, doutrinária
fundo histórico: a viagem do Gama
fundo histórico e simbólico : a busca de uma «Índia que não há»
referência aos fundadores de Portugal pela voz de Vasco da Gama e de Paulo da Gama, nos relatos ao rei de Melinde e ao Catual
evocam-se os que estiveram associados aos primórdios da nacionalidade, pedindo-se a Afonso Henriques que abençoe a pátria com o seu exemplo
referem-se as lutas contra os Mouros (Batalha de Ourique) e as lutas contra Castela (Aljubarrota; papel de Nun’Álvares)
Pessoa refere-se à figura de Nun’Álvares como um messias, um «Portugal em ser»
relata-se a aventura da descoberta do caminho marítimo para a Índia, incluindo adversidades e perigos (despedidas de Belém, Adamastor, tempestade)
evoca-se processo de conquista do mar desconhecido («O infante D. Henrique», «Horizonte», «Padrão», «O Mostrengo», «Ocidente», « Mar Português »)
Ilha dos Amores é a recompensa para os portugueses que se transcenderam
Pessoa sonha a recompensa: «ilhas afortunadas», «terras sem ter lugar», onde mora o Desejado
D. Sebastião é a garantia e a esperança do regresso de tempos gloriosos, ao estilo do sebastianismo tradicional
D. Sebastião está na base de um sebastianismo pessoano, que, sem negar o passado, aponta para um futuro promissor
nas Dedicatórias (cantos I e X), Camões reconhece em D. Sebastião qualidades de líder
loucura de D. Sebastião é evocada como necessária à criação de um novo império
conceito de herói épico tradicional: o que o move é a guerra contra os infiéis , a expansão
conceito de herói mítico: o que é escolhido para cumprir uma missão e é movido pela «febre do Além»
os obstáculos que o herói enfrenta levam-no à construção de um Império terreno (nacionalismo)
os obstáculos que o herói enfrenta lavam-no à transcendência, a um império espiritual, o Quinto Império (nacionalismo universalista)
poeta revela desencanto pelo presente
poeta revela desencanto pelo presente e apela à construção de um futuro de dimensão cultural e espiritual: «É a hora!»
poeta, ainda que valorizando os momentos gloriosos da pátria, mostra tristeza pelo não reconhecimento do seu valor, pelo estado da pátria
poeta pretende restaurar a grandeza da pátria, recriando o mito sebastianista , essencial ao renascimento que se defende
a poesia serve para registar e glorificar o passado
a poesia, o sonho, o misticismo são as forças que levarão ao Quinto Império
O Encoberto
I — Os símbolos
D. Sebastião (71)
O Quinto Império (72-73)
O Desejado (74)
As Ilhas Afortunadas (75)
O Encoberto (76)
II — Os avisos
O Bandarra (79)
António Vieira (80)
[Screvo meu livro à beira-mágoa] (81)
III — Os tempos
Noite (85-86)
Tormenta (87)
Calma (88-89)
Antemanhã (90)
Nevoeiro (91)
Finais das Supertaças
Campeões Demóstenes
1.ª Sílvia x Tiago
2.ª Inês x Cláudia
4.ª Ana x João C.
5.ª Filipa x Ricardo
6.ª Mónica x Filipa*
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ApresentaçãO Para DéCimo Segundo Ano, Aula 17
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ApresentaçãO Para DéCimo Segundo Ano, Aula 17 - Presentation Transcript
Podemos dizer que Mensagem é uma versão moderna, espiritualizada e profética de Os Lusíadas . Porém, ao contrário das epopeias clássicas, o poema de Pessoa oscila entre o pendor épico e uma dimensão marcadamente subjectiva / instros-pectiva / íntima / [espiritual] , mais típica da poesia lírica .
Com efeito, o estilo é, muitas vezes, o de quem escreve «à beira-mágoa» (como se diz no único poema do livro que não tem título ) e, por isso, o melhor modo de classificar Mensagem é como poema épico- lírico .
A s três partes de Mensagem correspondem a três momentos do Império Português: nascimento, realização e morte. No entanto, esta última parte supõe um re ss urgimento / renascimento (um novo império, no fundo). A figura do Encoberto, o regressado D. Sebastião ,
alude ao desastre de Alcácer Quibir , mas simboliza sobretudo a esperança de um novo império . O último verso do livro, «É a hora!», exprime esse apelo à mobilização da pátria .
Na primeira parte, «Brasão», temos uma galeria das figuras da formação da nacionalidade / [realeza / monarquia / coroa] . Na segunda, percorrem-se os heróis da fase da expansão ; na terceira, há mais elementos simbólicos / proféticos do que verdadeiras personalidades.
Mensagem foi publicada em 1934 , tendo Pessoa morrido em Novembro de 1935. É o único livro escrito em português que Pessoa publicou em vida . Os vários poemas que o constituem têm datas diversas:
por exemplo, a segunda parte, « Mar Português », inclui textos muito anteriores aos começos do Estado Novo (dos textos desta segunda parte lemos em aula o homónimo « Mar Português » e «O Mostrengo»).
As datas desses poemas correspondem, em geral, à época do sidonismo , o que se pode relacionar com o entusiasmo nacionalista que neles se sente. Já os poemas da terceira parte foram escritos não muito antes do concurso a que o livro se destinava.
sphyngico
esfíngico
1. relativo a «esfinge».
2. enigmático; impenetrável; misterioso.
Responde às perguntas 1 a 5 da p. 128.
1.
A Europa é descrita no poema como se de uma figura feminina se tratasse. Assim, na descrição do continente europeu, corpo cujos braços são a Inglaterra e a Itália , sobressai a cabeça “cujo rosto é Portugal ”.
Nessa cabeça, os cabelos são “românticos”, sonhadores, toldam o rosto, adensando o mistério que envolve a figura. Os olhos são “ gregos ”, marca da herança clássica e civilizacional que este atributo conota, e o olhar que deles se desprende é “esfíngico”, indagador do desconhecido, e “fatal”, pois a procura desse desconhecido é motivada pelo destino.
2.
A Europa “jaz”, estática e contemplativa, como se estivesse parada, morta, à espera do novo impulso vital que o seu olhar procura na distância. A expressão verbal “jaz” traduz essa imobilidade de quem espera.
3.
Portugal é o rosto da Europa que contempla o desconhecido. Ora, esse desconhecido é o Ocidente, o mar a desvendar para tornar possível o paradoxo de construir o “futuro do passado’. É a Portugal que cabe, pois, a missão predestinada de construção do futuro.
4.
“ O dos castelos” é Portugal , definido no poema como o rosto da Europa , o olhar e guia da Europa , Portugal cujo brasão ostenta os castelos, referenciais do passado, mas cuja missão é a construção do futuro. Lembremos que este é o primeiro poema da primeira parte de Mensagem que remete para a fundação da nacionalidade inscrita no brasão.
5.
Tal como neste poema de Mensagem , a estrofe 20 do Canto III de Os Lusíadas referencia Portugal como a cabeça da Europa — “quási cume da cabeça / De Europa toda” — atribuindo-lhe uma missão predestinada. N’ Os Lusíadas, essa predestinação é ditada pelo “Céu”, que quis que Portugal vencesse na luta contra os Mouros.
Prepara a leitura em voz alta dos textos entre as pp. 29-43 (Brasão: III - As Quinas; IV - A Coroa; V - O Timbre)
D, Duarte, Rei de Portugal 29
D. Fernando, Infante de Portugal 30
D. Pedro, Regente de Portugal 31
D. João, Infante de Portugal 32
D. Sebastião, Rei de Portugal 33
Nun’Álvares Pereira 37
O Infante D. Henrique 41
D. João o Segundo 42
Afonso de Albuquerque 43
TPC
[Atrasado:]
Escreve texto em prosa, a computador, susceptível de concorrer ao Prémio Literário Correntes d’Escritas.
Não esquecer Ibisfilme .
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ApresentaçãO Para DéCimo Segundo Ano, Aula 22
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ApresentaçãO Para DéCimo Segundo Ano, Aula 22 - Presentation Transcript
1.
Foi o Infante D. Henrique que preparou as primeiras viagens dos descobrimentos, pelo que é natural que seja a figura que inicia a segunda parte de Mensagem , «Mar Português».
2.1
O verso contém três orações assindéticas. A falta de conjunção acentua a ideia de gradação, isolando os três passos de construção da obra (fruto, em primeiro lugar, da vontade de Deus; e, em segundo lugar, do sonho do homem).
4.
No passado, os portugueses cumpriram uma missão, sulcando mares desconhecidos, criando um império. Desfeito esse império, no presente, Portugal «falta cumprir-se», precisa de um novo desígnio. Daí o apelo que é feito no último verso, relativo ao futuro, de cumprimento do destino mítico de Portugal.
1.
O poema organiza-se em três partes, correspondentes a cada uma das estrofes: primeiro, temos a viagem; depois, a visão de um mundo novo; finalmente, o sonho (ou a reflexão sobre o sonho).
2.
Houve um mar desconhecido, anterior aos descobrimentos («anterior a nós»), a que sucederá o «mar português». Esta primeira pessoa do plural implica o sujeito poético como voz de um colectivo, o povo português.
5.
O paradoxo «O sonho é ver as formas invisíveis / Da distância imprecisa» define o sonho enquanto acto visionário, presciente. Para concretizar o sonho, é necessário ver o invisível e, depois, querer ir ao encontro desse invisível adivinhado. Os que ousam sonhar receberão a recompensa, encontrando a Verdade.
Neste poema de Mensagem , Vasco da Gama , sob o olhar assombrado dos deuses, ascende aos céus , distanciando-se do que é terreno. Atravessa o vale, ladeado de medos , elevando-se ele mesmo a uma condição semelhante à dos deuses .
Também no canto IX de Os Lusíadas os marinheiros portugueses chegam a um lugar que é dos deuses, a Ilha dos Amores, como prémio da sua ousadia, por se terem superado a si mesmos e aos seus medos. No mesmo episódio, já no canto X (cfr. p. 95 do manual), Vasco da Gama é conduzido por Tétis ao cume do monte e recebe a notícia da imortalidade conquistada.
Tal como em Mensagem , em que o Gama é identificado com um Argonauta , também nos Lusíadas , no momento em que partem para a Índia, os portugueses são comparados aos Argonautas (canto IV, 83).
Para desvendar o mar, os portugueses tiveram de pagar um altíssimo preço de dor. No entanto, esse preço foi recompensado: o mar é português, como se vê no título do poema. Significa que valeu a pena sonhar, ter a alma grande, ainda que tenha sido necessário sofrer, pois no mar recebido está a imagem do céu, o mais alto prémio. Assim se processa o elogio do sonho, do desejo do desconhecido, tema recorrente em Mensagem .
Para desvendar o mar, os portugueses tiveram de pagar um altíssimo preço de dor. No entanto, esse preço foi recompensado: o mar é português, como se vê no título do poema.
Significa que valeu a pena sonhar, ter a alma grande, ainda que tenha sido necessário sofrer, pois no mar recebido está a imagem do céu, o mais alto prémio. Assim se processa o elogio do sonho, do desejo do desconhecido, tema recorrente em Mensagem .
Resolve a p. 13 do Caderno do Aluno , usando as respostas já começadas.
Chamo a atenção para o facto de, na zona cinzenta e enquadrada, não estar correcta a definição de «Homonímia». As palavras homónimas correspondem ao fenómeno que, em termos diacrónicos, se designa «convergência» («palavras convergentes», provenientes de étimos diferentes).
Às palavras homónimas corresponderão verbetes diferentes no dicionário.
Não se confunda a homonímia com a « polissemia » (ilustrada nas várias acepções que tem uma mesma palavra — apresentáveis num só verbete de dicionário).
1.1
Na primeira frase «partido» refere-se a uma organização social que defende uma determinada ideologia política. Na segunda, é sinónimo de « quebrado ».
1.2
Entre estas duas palavras existe uma relação de homonímia .
2.1
“ A caricatura, ao que parece, é um produto do Renascimento…”
2.2
[Na verdade, não se trata apenas de sentidos diferentes, mas de palavras diferentes. Não é polissemia, é homonímia .] Exemplos:
Consegui um segundo lugar na classificação.
Falta exactamente um segundo para começar a contagem.
3.1
As frases seguintes apresentam esse erro corrigido: «O cartoon critica , frequentemente, situações, opiniões, etc..»; «A caricatura nem sempre é uma crítica .»
3.2
A relação que existe entre as duas palavras é de homografia . A diferença na grafia das duas palavras está na acentuação. (Para mim, não devia ser assim, já que o acento já constitui uma diferença gráfica; mas é a convenção.)
4.
Ao enviar os vossos textos para a Póvoa, esquecer-me-ei do selo.
5.
Relação de paronímia .
5.1
i. expiar Pagar
b. discrição Sobriedade
j. espiar Espreitar
d. cumprimento Saudação
g. evasão Fuga
f. dispensa Isenção
A parte inicial do sketch «Voto de foleirice» (série Barbosa) faz um trocadilho que assenta numa relação de homonímia .
Uma cacofonia é, afinal, uma homofonia desagradável. Se tivermos tempo, veremos os equivalentes homófonos das grafias que aparecem nas legendas da «Canção da cacofonia» (série Zé Carlos).
1.
Glossário é um dicionário de vocábulos menos usuais, desactualizados ou específicos de uma área científica, artística ou outras…
2.
Afirmações correctas [ põe aqui as letras ]: b; d; f; [g]; h.
• Ave é um hiperónimo de corvo, águia, canário.
• Vertebrado é um hiperónimo de réptil e peixe.
• Cérebro é um merónimo de cabeça.
• Corpo é um holónimo de asa
3.
Estes grupos de palavras são de merónimos de «corpo»: « unha, pata, garra »; « bico, boca, braço ».
4.
Holónimo: « Árvore » | « Quarto » | « Livro » | « Computador ».
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